O Maior Risco que Você Corre
Se você sofre de enxaqueca há algum tempo, já se deu conta que todos os exames insistem em resultar normais. Desde o exame médico no consultório, até os exames de imagem que o médico solicita, como radiografias, tomografias, ressonâncias, angiografias etc. Eletroencefalograma, exames de sangue, urina, líquor e qualquer outro que você ou seu médico imaginar, todos normais. Nenhum exame sofre alteração por conta da enxaqueca diretamente.
No tocante a resultados de exames, apesar de tanta dor de cabeça, você “não tem nada”. Ou melhor, os exames não mostram nada. Não apontam para nenhuma anormalidade que pudesse efetivamente causar essa dor. Se apontassem, você não teria enxaqueca, mas sim a doença revelada pelo exame. E você não estaria lendo este artigo. Agora assista o vídeo abaixo, e depois continue lendo. Não pule o vídeo.
Sabemos que não existe exame sofisticado o suficiente para detectar o que está errado no cérebro de quem tem enxaqueca.
Mas não é sobre isso que quero falar neste artigo, e sim sobre o tratamento. Pois o tratamento pode ser o maior risco para quem tem enxaqueca.
O tratamento mais comum, usual e convencional para a enxaqueca é farmacológico, ou seja, à base de remédios – drogas farmacêuticas.
Por outro lado, não é segredo que drogas fazem mal. Ou melhor: ao mesmo tempo em que aliviam os sintomas da enxaqueca, têm risco de causar efeitos colaterais.
O risco está nos efeitos colaterais.
Efeitos colaterais são um eufemismo para designar o mal que o remédio faz, em paralelo ao bem que pode proporcionar.
Exemplos de remédios comumente utilizados no tratamento preventivo da enxaqueca são anticonvulsivos, antidepressivos, betabloqueadores, entre outros.
Exemplos de males comuns que os remédios preventivos mais prescritos para enxaqueca podem proporcionar, são ganho de peso, alterações do sangue, insuficiência hepática, fibrose no coração, síndrome serotonérgica, queda de cabelos, diminuição do desejo sexual, arritmias cardíacas, distúrbios neurológicos, depressão, visão embaçada, boca seca, queda da pressão arterial, alterações da memória, gastrite, prisão de ventre, diminuição dos glóbulos brancos e/ou plaquetas, doenças nos rins, entre outros.
Agora acompanhe meu raciocínio: o portador de enxaqueca inicia o tratamento sem apresentar nada de anormal nos exames – tudo perfeito. Com o tratamento, corre o risco, em grau variável, de sair com uma insuficiência renal, impotência sexual, trombocitopenia (diminuição excessiva das plaquetas do sangue, com risco de hemorragia), reação extrapiramidal, insuficiência hepática, problemas cardíacos, diminuição da memória, prejuízo da atenção e concentração… alterações estas, agora sim, perfeitamente visíveis e mensuráveis através de exames.
Tornando o tratamento mais seguro
É claro que nós médicos devemos visar não prejudicar, por conta das intervenções terapêuticas, o estado do paciente mais que já está. Em outras palavras, o médico deve fazer de tudo para não causar mal ao paciente num grau maior que já se encontra. Então, implementar um tratamento que pode causar alterações, algumas delas graves, na saúde de um paciente que até então não possuía qualquer alteração que pudesse ser detectável nos exames, deve ser feito com muito cuidado.
Esse cuidado muitas vezes se reflete na necessidade de realizar monitoramentos periódicos, até mesmo quando o paciente não sente qualquer reação. Digamos que você está em tratamento e teve uma grande melhora da frequência, intensidade e duração das crises. O médico prescreveu um remédio que não precisa de receita para comprar. Não caia na tentação de não voltar à consulta na data que seu médico solicitou. O motivo é que pode ser necessário algum monitoramento.
Digamos, por exemplo, que um dado remédio preventivo para enxaqueca pode causar insuficiência hepática. Claro que a probabilidade disso ocorrer é mínima – mas não zero. Insuficiência hepática é um problema grave e pode requerer até transplante de fígado. Mas na maioria das vezes a insuficiência hepática não surge de uma vez. Ela pode dar aviso, através da elevação dos níveis de enzimas hepáticas no sangue. Solicitando periodicamente a dosagem dessas enzimas, o médico tem condições de monitorar a função hepática, detectando elevações das enzimas muito antes de uma insuficiência hepática. Uma vez detectadas alterações nessas enzimas, o médico pode fazer ajustes na dose ou até suspender e substituir a medicação.
Tratamento menos agressivo é ótimo, desde que seja eficaz.
O que leva a uma questão ainda mais profunda: será ético recorrermos a intervenções que têm a possibilidade de causar inúmeras alterações na saúde, para um paciente que não apresenta nenhuma alteração sequer nos exames?
A dor desespera. O paciente que sofre com com crises frequentes, intensas, incapacitantes de enxaqueca não sabe, não se importa naquele momento, com o mal que um determinado tratamento pode ocasionar. O paciente se agarra, por desespero, a qualquer coisa, qualquer esperança de melhora. Basicamente o paciente que sofre com muita enxaqueca topa qualquer coisa. Somente após passado um tempo é que esse paciente, e/ou a família, poderão se dar conta do potencial prejuízo à saúde causado pelo tratamento. É função do médico ponderar e informar ao paciente e familiares os riscos do tratamento proposto.
O tratamento médico da enxaqueca é sempre paliativo, ou seja, atua nos sintomas e não nas causas. E com o passar do tempo, o tratamento – se realizado isoladamente, sem qualquer mudança significativa de hábitos e estilo de vida por parte do paciente – vai quase sempre perdendo o efeito, resultando numa frustração ainda maior.
Claro que, com os devidos monitoramentos e compreensão dos riscos, não é antiético tratarmos enxaqueca com as drogas disponíveis atualmente. Afinal, embora todos os exames estejam normais, a dor de cabeça da enxaqueca, a frequência dos demais sintomas, e a incapacidade que esta doença provoca em alguns casos, podem justificar todas as tentativas de tratamento, até os tratamentos mais agressivos e arriscados, no sentido de aliviar a dor.
Porém, não sem antes esgotar os tratamentos menos agressivos possíveis.
Comece pelos tratamentos menos agressivos.
Menos agressivos não deve nunca ser confundido com menos eficazes. Ao contrário, remédios naturais e acupuntura, por exemplo, quando bem indicados, prescritos e realizados conforme cada caso, podem resultar em grande alívio e efeito preventivo a curto prazo. Desde que esses tratamentos sejam acoplados a ações do paciente, sempre guiado pela orientação médica, no sentido de modificar hábitos e estilo de vida. Sono, alimentação, gestão do movimento e das emoções são os quatro pilares do estilo de vida saudável. Quando essa ação conjunta acontece, apenas uma minoria dos casos ainda requer a adição de alguma droga farmacêutica para conferir ao tratamento a eficácia desejada.
Ações Sugeridas:
Não se acomode com as drogas. Não seja um receptor passivo de tratamentos – ainda que naturais e não (tão) agressivos. Invista seu esforço e empenho pessoal no sentido de mudar hábitos e estilo de vida. Use meu livro como guia para essas mudanças, em conjunto com um tratamento individualizado e supervisão do médico de sua confiança.
Peça ao seu médico que explique os principais possíveis efeitos colaterais das drogas prescritas. Espere do seu médico a máxima abertura possível para discussão desses possíveis efeitos tóxicos ao seu organismo. Seu médico deve estar preparado para explicar outras opções de tratamento, farmacológicas ou não, caso você decida não embarcar em determinado tratamento em função dos possíveis efeitos colaterais que lhe foram explicados.
Não falte às consultas marcadas. Podem ser necessários monitoramentos periódicos, ainda que você esteja se sentindo muito bem.
Jamais tenha receio de discutir e questionar, no bom sentido, seu tratamento. Todo médico tem a obrigação ético-profissional de obter o consentimento informado de seu paciente para a realização de qualquer tratamento que possa posar risco à saúde. Obviamente, o paciente precisa ser informado do(s) risco(s) para, então, consentir (ou não), em vista dos potenciais benefícios.
Conclusões:
- O maior risco do tratamento da enxaqueca é a desinformação.
- Informe-se.
- Cuide-se.
Informações
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Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
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