Quando falamos em tratamento da enxaqueca sem remédios, nos referimos em grande parte à alimentação. O leite industrializado é um alimento problemático e potencialmente pró-inflamatório. Este é um artigo sobre leite de vacas criadas soltas a pasto, escrito para o site enxaqueca.com.br, pelo agrônomo brasileiro José Luiz Moreira Garcia, com mestrado em Bioquímica e Fisiologia das Plantas pela Michigan State University. Não deixe de ler esta análise do nosso sistema atual, e como é possível modificá-la. Esta análise é importante não só para o leite, tema do artigo, mas para repensarmos os métodos atuais de produção de alimentos.
TORNANDO O LEITE (AINDA) MELHOR
José Luiz M Garcia, Eng. Agr. M. Sc. Bioquímica
A ciência e a tecnologia de ponta para a produção de leite nos recomenda a utilização da raça Holstein (HPB) em instalações do tipo confinamento e denominadas de “Free Stall” com alimentação à base de silagem de milho e concentrados tais como caroço de algodão, polpa de laranja, farelo de soja, milho, etc… além de, é claro, suplementos minerais tão necessários a nutrição animal já que os solos, e conseqüentemente as plantas e alimentos oriundas desses solos, não mais dispõem desses mesmos minerais e, de preferência, com rebanhos acima de 100 animais.
É a versão tecnológica tupiniquim do “Get Big or Get Out” (Cresça ou Desapareça) na pecuária leiteira brasileira aprendida com nossos irmãos do hemisfério norte que nos impingiram genética, manejo e alimentação desenvolvidos por quem usufruiu de décadas de gordos subsídios o que, evidentemente, não é o nosso caso – muito pelo contrário.
Dizem os nossos técnicos, acotovelados nas Universidades, Centros de Pesquisa e até em empresas de consultoria técnica, que essa “receita” nos garantiria o maior retorno financeiro por “Unidade Animal” – que é como eles se referem às vacas leiteiras, mães zelosas da raça humana, ao permitirem que os homens pudessem evoluir culturalmente tirando-lhes grande parte do árduo trabalho diário de obter alimento para o seu sustento, e que, por isso mesmo merecem ser tratadas com todo o nosso respeito.
Como em toda atividade humana regulada pelo mercado, o lucro financeiro é o que dita as regras. Se gerar lucro é bom e se não gerar não é, diz a ótica mercantilista. Essa visão de mercado, geralmente míope, não leva em consideração todas as variáveis envolvidas no processo produtivo priorizando única e exclusivamente o lucro financeiro em detrimento de vários outros fatores como valor nutricional dos alimentos, saúde do rebanho, longevidade reduzida dos animais, níveis de poluição gerados, balanço energético negativo entre outros.
O caso da produção de leite é emblemático para ilustrar como as atividades biológicas não devem ser geridas somente por critérios única e exclusivamente financeiros.
O leite à pasto, dizem os “entendidos”, não é viável e, segundo ainda algumas autoridades, colocaria até em risco o fornecimento de alimentos, causando o desabastecimento e levando a humanidade à inanição. Como sempre, apela-se para o medo e o terrorismo sempre que se procura fazer valer algum ponto de vista, método amplamente usado pelo governo e autoridades para obrigar a vacinação compulsória sem que existam, à vezes, motivos genuínos para tal, para aprovarem esse ou aquele imposto sem que existam motivos reais para tanto, etc… num processo que eu denominei de “Fobiocracia” que é o governo pelo emprego do medo. Aumentam-se taxas de juro a níveis estratosféricos por medo (injustificado) da inflação e assim por diante, sempre instilando o medo ou acenando com alguma possibilidade nefasta.
Ocorre que técnicos conscientes, como o Dr Leovegildo de Matos da EMBRAPA Gado de Leite, nos apresentam um panorama exatamente oposto, ou seja, é possível sim produzir-se Leite à Pasto de forma rentável respeitando-se a fisiologia e a dignidade animal, por permitirem às vacas um maior número de lactações e com menor incidência de doenças, respeitando-se a ecologia com menor poluição ao meio ambiente, respeitando-se as reservas energéticas com melhor balanço energético, e agora, de acordo com os resultados de inúmeras pesquisas médicas, respeitando-se a saúde e o bem estar do consumidor com um produto de maior valor nutricional. E o que é melhor, poderá ser produzido não em poucas Fazendas-Fábrica, mas sim pela Agricultura Familiar em centenas ou milhares de pequenas propriedades por esse Brasil a fora (1)
O resultado das pesquisas médicas colocaria o Leite de Vacas Saudáveis e Satisfeitas que tenham a possibilidade de se alimentar preferencialmente de pasto , feno e silagem de capins, na condição de um verdadeiro e natural nutracêutico e não mais de um simples alimento “commodity”. A indústria de alimentos quer nos fazer crer que os nutracêuticos são uma invenção e propriedade única e exclusivamente delas ( Entende-se por nutracêuticos alimentos que sejam funcionais ou que tenham a capacidade de beneficiar de alguma forma a saúde das pessoas) mas esse definitivamente não é o caso.
O fato é que se todos os alimentos fossem de fato produzidos conforme as leis da Biologia e, por conseguinte, da Natureza, seriam, com certeza no mínimo funcionais e não apenas simples “commodities” ou alimentos vazios.
Pesquisas recentes nos dão conta que somente o leite de vacas à pasto possui teores significativos de CLA ( Acido Linoléico Conjugado), e não o leite de vacas confinadas alimentadas a base de grãos conforme os ditames da tecnologia supostamente moderna.
O CLA é uma gordura boa recentemente descoberta que tem se demonstrado um poderoso agente anti-cancerígeno. Em estudos com animais o CLA demonstrou o seu efeito antitumoral em pequenas doses em todos os três estágios do câncer, isto é, 1) Iniciação, 2) Promoção e 3) Metástase. Vale lembrar que a maioria dos agentes anti-cancerígenos conseguem bloquear apenas uma das três etapas. O CLA reduziu o crescimento de uma ampla gama de tumores incluindo cânceres de pele, mama, próstata e cólon. ( 2 )
Embora as pesquisas ainda estejam em fase inicial com humanos, as primeiras notícias já são bastante animadoras e demonstram que resultados semelhantes são esperados com pessoas. Um levantamento recente demonstrou que as mulheres com a maior taxa de CLA nas suas dietas tiveram uma redução de 60% no risco de contrair câncer de mama.(3 )
Onde obter níveis significativos de CLA ? Um grande número de pessoas toma uma forma sintética bastante difundida nas academias como forma de reduzir a gordura e construir massa muscular. Infelizmente, pesquisas também recentes nos dão conta que essa forma sintética pode apresentar efeitos colaterais potencialmente sérios que incluem promoção da resistência a insulina, aumento dos níveis de glicose no sangue, fígado aumentado e redução do colesterol HDL considerado bom.(4 ) A diferença básica entre a forma sintética está na configuração química da molécula, sendo a natural a cis9, trans11 ou “ácido rumênico” e a sintética a trans10, cis12. Uma vez mais, a natureza provou ser mais sábia que os homens. Não é a primeira vez e nem será a última que uma versão natural provou ser superior a forma sintética.
E mais que isso, alguns trabalhos também demonstraram ser a perda de peso provocada pelo CLA sintético insignificante em seres humanos.
A forma mais segura de se consumir o CLA é por meio de produtos naturais e essa forma natural de CLA ( c9, t11 = acido rumenico) não tem efeito colateral nenhum. Os alimentos que mais o contém seriam as gorduras de carnes de animais que se alimentam de capim (pasto) e gorduras do leite e derivados, de vacas que se alimentem também de capim. Mais precisamente as gorduras animais como, por exemplo, a manteiga . Pesquisas realizadas desde 1999 demonstram que animais que pastoreiam possuem de 3 a 5 vezes mais CLA do que animais alimentados em confinamento recebendo grãos como base de sua dieta.(5 )
A nível molecular, o CLA lembra outro acido graxo conhecido por “acido linolêico” ou LA. Ambos possuem 18 átomos de carbono e duas duplas ligações que mantém a cadeia unida. A diferença entre eles é sutil, assim como a Natureza. Refere-se a colocação dessas duplas ligações. Essa diferença aparentemente pequena faz com que tenham efeitos diametralmente opostos no corpo humano. Enquanto o CLA inibe a formação de tumores o LA promove a formação de tumores. Existem 28 isômeros (tipos) de CLA na natureza, mas o mais comum encontrado na carne o no leite é o ácido rumenico.
Como diria o saudoso colunista Ibrahim Sued : “ Sorry Periferia”, mas apenas o Leite à Pasto se qualificaria como produto a ser consumido por todos aqueles realmente interessados em consumirem alimentos que possam ter um impacto significativo na sua saúde e que transcendam ao simples rótulo de “Convencional” ( podendo ter contaminantes químicos) e “Orgânico” (supostamente isentos de contaminantes químicos) hoje tanto em moda.
Além do CLA, o leite à pasto demonstrou igualmente ser mais rico em Vitamina E tendo até 86% mais vitamina E do que o leite de vacas que comem uma dieta padrão preconizada pelo status-quo acadêmico-científico (6). O Leite de vacas que comem capim possui também teores mais elevados de Beta-Caroteno ( Pro vitamina A ) e Ômega -3.(7 )
Dessa forma, o leite à pasto de vacas Jersey ou Guernsey, devido à predominância do Leite A2 hipoalergênico (https://enxaqueca.com.br/?p=102) é o que esperamos ver no mercado no futuro preferencialmente sanitizados ( potabilizados) pelo processo de Micro-Filtração desenvolvido pelo ITAL- Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas (8), que potabiliza o leite e preserva todas as suas qualidades nutricionais originais protegendo todas as vitaminas, enzimas e imunoglobulinas destruídas pelo arcaico e universal processo de pasteurização.
Literatura Citada
1. Matos, L.L. (2007) “ Produção de Leite a Pasto”, In: Bridi,A.M. et al.. A Zootecnia frente a Novos Desafios. Londrina, UEL, 2007, 572p.
2. Ip, C., J.A. Scimeca, et al. (1994) “ Conjugated Linoleic Acid. A Powerfull anticarcinogen from animal fat sources”. CANCER, 74 (3 Supplem):1050-1054.
3. Aro, A., S. Manisto, I.Salminen,et al. (2000) “ Inverse Association between Dietary and Serum Conjugated Linoleic Acid and Risk of Breast Cancer in Postmenopausal Women. NUTRITION and CANCER, 38 (2):151-157.
4. Riserus, U., P. Amer, et al. (2002) “ Treatment with dietary trans 10 cis 12 conjugated linolei acid causes isomer-specific insulin resistance in obese men with the metabolic syndrome. DIABETES CARE, 25(9): 1516-1521.
5. Dhiman, T.R., G.R. Anand, et al.(1999) “ Conjugated Linoleic Acid content of Milk from cows fed different diets”.J DAIRY SCI, 82(10):2146-2156.
6. Leiber, F., M. Kreuzer, et al.(2005) LIPIDS, 40(2): 191-202.
7. Hauswirth, C.B., M.R.Scheeder and J.H. Beer. (2004) “ High Omega-3 Fatty Acid content in Alpine Cheeses: The basis for an Alpine Paradox. CIRCULATION ,109(1):103-107.
8. Microfiltração do Leite é Viável (2008) Revista Balde Branco, 523: 82-84, maio, 2008.
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