Invista em Sono, e não em suplemento de melatonina, para enxaqueca.
Um bom sono à noite, no escuro, é um hábito importante para a saúde e não poderia ser diferente para quem tem enxaqueca. Uma das dicas mais importantes para se melhorar da enxaqueca, “de dentro para fora”, é: – Durma Bem! Essa diretriz é ainda mais importante nestes tempos em que a imprensa prefere divulgar comprimidos de melatonina, e não um bom sono, como solução contra enxaqueca.
Há grandes confusões envolvendo a questão do sono. Muitos sofredores de enxaqueca pensam nele como sendo um potencial fator desencadeante de crises – quantos já tiveram uma bela dor de cabeça ao acordar de uma soneca durante o dia! Ou então, acordar mais tarde que o usual – por exemplo, num feriado ou final-de-semana, quando não é preciso acordar tão cedo como de costume. Ou ir dormir muito tarde, por dias, semanas, meses a fio, e coincidentemente, começar a ter enxaqueca, ou piorar dela. Quantas mulheres que jamais tiveram enxaqueca em suas vidas, iniciaram sua primeira crise dias ou semanas após o parto… e quem já deu à luz sabe muito bem o quanto o sono – que podia ser ruim antes mesmo da gravidez – fica muito pior, mais prejudicado e fragmentado, por meses, e até anos, após o nascimento de seu filho …e mais tarde, do segundo, terceiro filho…
Interessante lembrar que durante a gravidez, a maioria das enxaquecosas apresenta um grande alívio das dores de cabeça. Especialmente a partir do segundo trimestre, quando os níveis do hormônio progesterona começam a ficar bem mais elevados. A progesterona possui uma ação calmante no cérebro – por esse motivo, as grávidas costumam ter muito sono, e tendem a dormir mais!
O sono insuficiente, em si, é capaz de provocar dor de cabeça até mesmo em quem não sofre de enxaqueca. Imagine, então, em quem sofre!
Na maioria das vezes, entretanto, falhamos em reconhecer que nosso sono está insuficiente. Nós vamos dormir somente quando estamos exaustos, muitas vezes tarde da noite. E estamos dormindo cada vez mais tarde! – a televisão e o computador se encarregam de manter a maioria de nós acordados, e a sua luz, assim como a das lâmpadas acesas, exercem uma ação no nosso cérebro que atrasa nosso relógio biológico, criando um estado de alerta num horário em que já deveríamos estar dormindo faz tempo.
Nosso sono está se tornando cada vez menos o resultado final de um processo de relaxamento e desligamento, de uma diminuição gradual das atividades de nosso corpo e cérebro que se inicia com o por-do-sol e culmina com aqueles 15 a 20 minutos finais, na cama, durante os quais nossa mente vaga, divaga, revive pacificamente o dia que se foi, conduzindo-nos ao misterioso e maravilhoso mundo dos sonhos – a um só tempo um repouso e uma viagem que nos repara, prepara o corpo e a mente para o futuro, para o dia seguinte, para o nascer do Sol, nosso despertar, nosso renascer, com todo o vigor e energia de um recomeço – como na Natureza!
Mas não. Nosso sono está cada vez mais antinatural. A paz do anoitecer está cada vez mais distante da nossa casa, do nosso ambiente. Tudo compete com ela: o trabalho, a televisão, o computador, o lazer, as atividades sociais, a luz artificial… E assim, não há mais relaxamento. Num momento você está assistindo ao noticiário (repleto de más notícias), e no outro você “desmaia” no travesseiro… com a televisão ligada. Ou o computador. E a luz do abajur acesa. E o telefone celular (ligado) piscando bem próximo ao telefone sem fio e à sua cabeça – como se não bastassem as demais ondas eletromagnéticas a poluírem seu quarto. …E de repente, você acorda. Consulta o despertador, que impiedoso, nervoso, mostra que é madrugada. Seu corpo mal relaxou e sua mente “acende”, tão bruscamente quanto “apagou”. Você retoma os últimos pensamentos, as últimas preocupações, as contas que não pagou, o dinheiro que não recebeu, os e-mails que não respondeu, o prazo a ser cumprido, o trabalho escolar, o exame, a monografia, os filhos, os pais, os amigos, os inimigos… Você sabe que não deveria estar pensando nisso, você sabe que deveria simplesmente virar de lado e dormir pacificamente – mas você simplesmente não consegue. Você está pagando o preço por não respeitar o processo natural desde o início. Você achou que poderia “pular fases”, sem dar bola para o incrível fato que até mesmo o gigantesco Sol se retirou há muito para dar espaço à escuridão da noite. A dica está lá fora, “gritando” para quem quisesse ver que já é noite, que está escuro, e que da mesma forma que o dia e a noite, tudo no Universo possui ciclos, fases, que não podem ser “puladas”. Basta não respeitar estes ciclos para entrar em desarmonia e desequilíbrio com a natureza. E o que é a doença, senão uma conseqüência desse desequilíbrio?
Enquanto dormimos no escuro total, nosso cérebro fabrica uma série de substâncias químicas que não são fabricadas em outras condições! A melatonina é uma delas. Produzida pela glândula pineal, localizada nas profundezas do cérebro, a melatonina é a rainha (e o rei) dos hormônios e neurotransmissores. Ela é um neurohormônio. Sua produção governa nossa imunidade, nossa temperatura corporal, nossos níveis de serotonina (neurotransmissor-chave cujo desequilíbrio ocorre em doenças como enxaqueca, depressão, pânico, ansiedade e fibromialgia), nossa escolha alimentar, nossos níveis de hormônio do crescimento (que nas crianças faz crescer, e nos adultos participa na regeneração das células e tecidos que se desgastaram durante o dia), nosso hormônio estrogênio, e nosso hormônio do estresse – cortisol. A melatonina também governa a qualidade do nosso próprio sono.
É preciso que esteja escuro – escuridão total – para que a melatonina seja fabricada adequadamente.
E é por tudo isso que nós somos organismos fotoperiódicos. Do mesmo modo que precisamos da claridade do Sol (leia meu artigo a respeito dos benefícios do Sol clicando aqui), precisamos da escuridão da noite. E ambas essas necessidades foram esquecidas ou desprezadas por muitos de nós, que ficamos entre quatro paredes enquanto o Sol brilha lá fora, e permanecemos expostos à claridade artificial bem depois do Sol ter se posto.
Precisamos repensar nosso comportamento com base nesse conhecimento.
Como querer melhorar de um desequilíbrio da serotonina, que é uma das principais causas da enxaqueca (e das outras doenças listadas acima), se não respeitarmos nossa produção de melatonina, de cujo equilíbrio a serotonina depende?
E antes que alguém pergunte, tomar melatonina não é, nem de longe, a mesma coisa que fabricar melatonina. Assista este vídeo de 3 minutos explicando claramente porque:
Algumas pessoas dizem-se noturnas, ou notívagas, querendo dizer que rendem mais à noite. Na verdade, essas pessoas estão com seus relógios biológicos desregulados; simplesmente vivem num fuso horário diferente, causado pela própria luz artificial a que se expuseram – e estão pagando o preço disso com ansiedade, enxaqueca, depressão, etc. Não necessariamente todas essas doenças juntas.
Como conseqüência da má qualidade de sono, muitas pessoas passam o dia sonolentas. Elas estão “devendo” sono para si mesmas. Essas pessoas possuem níveis mais altos de estresse, que por sua vez facilitam o aparecimento… adivinhe de quem?… da enxaqueca! Essas pessoas tomam mais café e bebidas contendo cafeína ou outros estimulantes (como os refrigerantes), simplesmente para se manter despertas – embora a maioria não se aperceba disso.
Coloquei no site, anos atrás, um teste para medir o débito de sono, para que cada leitor pudesse ver o seu próprio resultado. Criei também uma enquete: “Para Quem Fez o Teste: Como Está seu Débito de Sono?”. De 1749 participantes, 41% relataram débito de sono elevado ou extremo! Apenas 15% relataram débito de sono leve, e os restantes 44%, débito de sono moderado. Esses graus de desequilíbrio têm muito a ver com tudo que estamos sentindo e sofrendo.
Faça uma experiência que você nunca fez: vá dormir mais cedo, e faça isso por vários meses. Não precisa acordar mais tarde, nem dormir durante o dia, pois ambas essas possibilidades podem desencadear crises de enxaqueca, e não geram a mesma produção de melatonina. Ao dormir mais cedo, você aumenta seu número de horas de sono no escuro – mas para isso, precisa desligar tudo à sua volta, até mesmo a luzinha do telefone, ou da TV desligada. Invista em uma boa vedação de sua janela, para que não entre luz de fora. Apague tudo à noite! E para conseguir dormir mais cedo, repense e reprograme todas as suas atividades à noite. Evite cafeína e álcool, pois estes inibem a produção de melatonina. Algumas drogas, como betabloqueadores, também inibem essa produção. Releia este artigo, leia atentamente o capítulo sobre sono do meu livro, e aguarde novos artigos no futuro. Confie na sua capacidade de mudar seu próprio destino para melhor.
Informações
Agendamento
Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
Atendimento Online e Presencial