Você pensava que só o Sr. Spock, do planeta Vulcan, tripulante da nave espacial Enterprise, da série Jornada Nas Estrelas, tinha sangue verde?? Se você sofre de enxaqueca e toma regularmente altas doses de Sumatriptano, pense novamente!!
A revista científica The Lancet publicou, na sua edição de 9 de junho de 2007, um artigo intitulado Dark Green Blood in the Operating Theathre (traduzindo, Sangue Verde-Escuro na Sala de Cirurgia).
O artigo é assinado por uma médica de um hospital canadense, que presenciou o fato durante uma cirurgia. O paciente dela tinha sangue arterial de cor verde-abacate (a casca, não a polpa), ao invés de vermelho-vivo!
Esse paciente vinha tomando altas doses de sumatriptano, para o tratamento de enxaqueca.
O sangue verde foi causado por uma condição denominada sulfahemoglobinemia, na qual um átomo de enxofre (ao invés de oxigênio) é incorporado à hemoglobina do sangue. A hemoglobina é uma molécula presente nos glóbulos vermelhos, responsável por carregar o oxigênio no nosso sangue.
Acontece que o sumatriptano contém enxofre. E é justamente esse enxofre que, segundo a autora, teria ocupado o lugar do oxigênio na hemoglobina do sangue, mudando sua cor.
Mas não é apenas a cor do sangue que se modifica nesses casos. Ao se fixar na hemoglobina, o enxofre não deixa que o oxigênio reaja com ela, diminuindo, desse modo, a oferta de oxigênio para todos os nossos tecidos e células, inclusive o coração e o próprio cérebro. Uma pessoa com menos oxigênio no seu sangue arterial pode ficar mais sonolenta, “de ressaca”, irritada, com dificuldade de concentração e memória ruim. Se esse indivíduo já sofre de alguma doença cardiovascular, ela pode ser exacerbada. Quando falta oxigênio, ainda que só um pouco, todo o organismo sofre. Toda a capacidade de recuperação das doenças diminui.
Eu achei esse caso muito ilustrativo e esclarecedor, e resolvi comentá-lo, pois reforça ainda mais a minha convicção de que as “soluções”, quando apresentadas única e tão-somente na forma de drogas ou outras intervenções, desacompanhadas de mudanças reais nos hábitos e estilo de vida, são simplistas e prejudiciais ao paciente. Para mim e para meus pacientes, os remédios ficam no lugar que merecem: em último lugar! A importância maior, dentro do meu dia-a-dia no consultório, reside nas ações do próprio paciente em adequar, com meu auxílio, caso a caso, o estilo de vida, à luz dos conhecimentos científicos sobre a maravilhosa influência do quotidiano no nosso equilíbrio neuroquímico e hormonal. Influência esta que nenhum remédio deste mundo é capaz de imitar.
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