Remédios Para Pressão Diminuem Frequência das Crises.
Tenho sempre como objetivo tratar meus pacientes sem recorrer ao uso de drogas farmacêuticas. Também sou muito crítico com aquelas reportagens da mídia sobre lançamentos de remédios para enxaqueca, sejam eles remédios para pressão ou quaisquer outros, que mais se parecem com propaganda desses remédios que matéria jornalística.
Tudo isso faz com que muitos achem que sou contra remédios. Mas não é verdade. No meu entender, o que se vê é uma prescrição e uso indiscriminados de medicamentos, sem que se leve em conta o fato que drogas muitas vezes não seriam necessárias face a uma ação conjunta envolvendo mudanças-chave de hábitos e estilo de vida (conforme detalhado inclusive no meu livro), remédios naturais e tratamentos sem remédios, como acupuntura.
Porém, enquanto vejo a abordagem sem remédios como solução viável, satisfatória e segura para a maioria dos casos de enxaqueca, também reconheço que alguns, embora uma minoria, dos pacientes portadores de enxaqueca somente obtém bons resultados quando se faz uma conjunção da abordagem sem remédios com a abordagem com remédios. Atente que estou falando de adição, e não substituição de estratégias terapêuticas. Sem mudanças de hábitos e estilo de vida, nenhum tratamento para enxaqueca funciona a longo prazo.
Entendidas essas ressalvas, vamos direto ao tópico deste artigo. O fato é que remédios para pressão alta podem diminuir significativamente a frequência, intensidade e duração das crises de enxaqueca, e esse fato está cientificamente comprovado.
Isso vale mesmo para quem não sofre nem nunca sofreu de pressão alta (hipertensão arterial). Digo isso porque muita gente poderia, erradamente, atribuir o efeito do remédio à diminuição da pressão arterial. Existe grande confusão envolvendo enxaqueca e pressão arterial, mas é importante compreender que o aumento (ou diminuição) da pressão arterial quase nunca causam enxaqueca, mas podem ser causadas por ela!
Se o mecanismo pelo qual os remédios para pressão alta melhoram a enxaqueca não estão ligados à redução da pressão arterial, então quais seriam esses mecanismos?
Boa pergunta! A verdade é que ninguém sabe ao certo. O que se sabe, e se comprovou cientificamente, é que remédios para pressão, quando ingeridos diariamente, previnem o surgimento de dores de cabeça e crises de enxaqueca. Quer esses indivíduos sofram de pressão alta, quer possuam a pressão normal ou até baixa! Na verdade, para quem tem enxaqueca e não sofre de pressão alta, baixar a pressão se transforma num dos possíveis efeitos colaterais desses remédios.
Mais que isso: o fato de um desses remédios para pressão não fazer efeito num determinado caso de enxaqueca não significa que outro, ainda que muito parecido quimicamente com o primeiro, não possa fazer efeito! Esse fato comprova que cada um desses remédios é diferente entre si, no tocante a nuances ainda desconhecidas do mecanismo de ação deles na enxaqueca.
Essas múltiplas possibilidades de funcionamento são boa notícia especialmente para quem vive dizendo que já tomou “todos os remédios possíveis”. Pelo exposto no parágrafo anterior, quase sempre isso não é verdade.
Betabloqueadores
O mais conhecido e emblemático dos remédios para pressão utilizados para o tratamento preventivo da enxaqueca se chama propranolol. É usado há pelo menos 60 anos com essa finalidade. Pertence a uma família de remédios para pressão chamados betabloqueadores. Outros betabloqueadores que também podem ser utilizados são o nadolol, timolol, atenolol, labetalol e nebivolol.
Bloqueadores de Canais de Cálcio
Outra família de remédios para pressão se chama bloqueadores de canais de cálcio. Calma, esse nome não tem nada a ver com o cálcio dos ossos – não é esse cálcio que esses remédios bloqueiam. Na verdade não vale a pena para quem não é médico entender que canais de cálcio são esses, a não ser que você goste de neurociências. O mais emblemático dos remédios desta família se chama verapamil. Altas doses de verapamil podem ser eficazes no tratamento da raríssima cefaleia-em-salvas. Outros exemplos de bloqueadores de canais de cálcio são a amlodipina e o diltiazem. Os bloqueadores de canais de cálcio, sozinhos, não costumam ser eficazes no tratamento da enxaqueca – mas isso pode mudar quando eles são associados a outros remédios.
Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina
Mais eficazes que os bloqueadores de canais de cálcio para o tratamento preventivo da enxaqueca são os remédios para pressão da família dos inibidores da enzima conversora da angiotensina, como o enalapril e o lisinopril.
Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina
Por fim, existem também a família dos bloqueadores dos receptores da angiotensina, como a losartana, olmesartana e candesartana.
Todos esses remédios para pressão podem ser utilizados pelo seu médico, isoladamente ou em conjunto com outros tipos de medicamentos, com o objetivo de prevenir enxaquecas, a depender de cada caso.
E todos esses remédios possuem, é claro, uma longa lista de efeitos colaterais. O melhor mesmo seria não precisar tomá-los. Converse sempre com seu médico sobre os possíveis efeitos colaterais destas e quaisquer outras medicações.
Somente seu médico poderá determinar se o uso de remédios para pressão é ou não apropriado para o tratamento preventivo da sua enxaqueca. Somente seu médico poderá determinar o tipo, a dosagem e a combinação mais adequada de remédios para o seu caso.
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