O Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics publicou, em 28 de março de 2007, artigo no qual cientistas relatam haver criado uma nova molécula (possivelmente uma nova droga, se passar por anos de rigorosos testes), que por enquanto recebe o nome de SB-705498. Essa droga atua sobre receptores vanilóides no cérebro, os quais possuem papel fundamental na detecção de estímulos dolorosos. Os autores sugerem que essa nova classe de moléculas pode representar um novo recurso terapêutico para dores crônicas como a enxaqueca.
A palavra vanilóide vem do espanhol vanilla, que se traduz por baunilha em português.
A baunilha é uma das especiarias mais caras, juntamente com o açafrão e o cardamomo. Seu preço reflete sua importância histórica: a baunilha era utilizada para aromatizar as bebidas dos reis Maias e Aztecas, que eram baseadas no chocolate. Os Aztecas chamavam a baunilha de tlilxochitl, e utilizavam-na juntamente com pimenta.
A baunilha é encontrada nas sementes de uma orquídea denominada Vanilla planifolia (Variante fragrans), planta nativa da região do México. Os espanhóis chamaram-na de vanilla, termo proveniente da palavra espanhola [vaína], a qual é derivada da palavra latina vagina, pois acharam que as favas da baunilha, quando cortadas no sentido longitudinal a fim de expor as sementes aromáticas, lembram uma vagina.
A obtenção do pleno sabor e aroma é um processo que pode levar vários meses, e que resulta da lenta fermentação das favas, as quais contêm inúmeras sementinhas em seu interior. Essas sementinhas, trituradas, são utilizadas de modo similar ao café. Quer fazer seu próprio extrato natural de baunilha? Clique aqui para aprender. Fica delicioso!
A vanilina é uma substância química presente na baunilha, responsável por boa parte de seu aroma. Ela pode ser sintetizada quimicamente e seu uso é muito comum na indústria alimentícia. 95% dos aromas de baunilha são devidos à vanilina sintética. Falta, no entanto, à vanilina, a qualidade do aroma e sabor natural da baunilha, o qual se desenvolve graças ao fato das favas terem sido fermentadas, curtidas.
A baunilha é de cultivo muito difícil, uma vez que as plantas são polinizadas apenas por abelhas e beija-flores nativos da América Central, México e algumas ilhas do Caribe. Fora do seu habitat natural, a baunilha requer “inseminação artificial”. Em 1841, os franceses desenvolveram um método de polinização manual, introduzindo o cultivo da baunilha na ilha francesa de Reunion (antigamente denominada Bourbon), no Oceano Índico. Esta ilha é, até hoje, um produtor importante de baunilha, cuja variedade é conhecida por Baunilha Bourbon. Atualmente, o maior produtor de baunilha Bourbon é Madagascar.
Desde que se tornou conhecida na Europa a partir do Século 17, a baunilha tem sido utilizada como remédio natural com múltiplas indicações, de calmante até anti-úlcera. Ganhou fama como afrodisíaca. É interessante observar que a manipulação e uso excessivo de baunilha pode resultar num quadro clínico denominado vanilismo, que consiste em sintomas como dor de cabeça e coceiras na pele. Como em tudo mais nesse mundo, a moderação é fundamental.
A vanilina, substância responsável por boa parte do aroma “bruto” da baunilha, pertence à classe dos vanilóides. Outros vanilóides são: a capsaicina (substância pincante da pimenta-do-reino, cujo nome químico é 8-metil-N-vanilil-noneamida), o eugenol (presente no cravo e canela) e a zingerona (do gengibre).
O nosso cérebro e todo o sistema nervoso central e periférico, contêm receptores vanilóides de vários tipos que se ligam a esses compostos, resultando em efeitos sensoriais diferentes para cada um. Os receptores vanilóides foram descritos em 1990 e clonados pela primeira vez em 1997. A contínua elucidação desses receptores e suas propriedades tem exercido papel importante na compreensão do mecanismo da dor e analgesia, tornando possível o desenvolvimento cada vez maior de tratamentos. A compreensão dos receptores vanilóides poderá dar margem à criação de novos tratamentos para o alívio da dor crônica.
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