Médico especialista em enxaqueca existe? Onde Encontrar?
Esta pergunta eu recebo quase diariamente através de mensagens no instagram, facebook, twitter e Youtube:
“–Dr., eu moro em tal e tal lugar. Você teria uma indicação de médico para enxaqueca no meu Estado, cidade, enfim, próximo de onde eu moro?”
Porém, o fato é: quem sou eu para indicar um médico para enxaqueca em favor de outro? Antes de mais nada, qualquer médico com boa formação possui, em princípio, capacidade profissional de tratar de um caso de enxaqueca. Não há segredos em medicina. O conhecimento sobre enxaqueca e tratamento da dor de cabeça crônica é acessível a todos os médicos. Até mesmo médicos nos locais mais distantes têm acesso a essas informações, através da internet. Hoje é possível assistir todas as aulas de um congresso internacional de dor de cabeça sem precisar sair de casa. É possível ter acesso a livros-texto sobre cefaleia sem depender dos títulos estarem disponíveis na livraria médica local. Isso se aplica especialmente à doença enxaqueca, que não requer tecnologia ou aparato excepcional para diagnosticar e tratar. Encontrar um médico para enxaqueca não deveria ser tão difícil.
Então por que tanta gente sem diagnóstico e tratamento?
Uma coisa é o conhecimento existir e ser acessível a todos os médicos. Outra, completamente diferente, é todos os médicos efetivamente possuírem esse conhecimento. Infelizmente, este não é o caso.
Acontece que o currículo de ensino médico de graduação dedica pouquíssimas horas – se alguma – ao tópico enxaqueca. Pior ainda: existem professores e/ou preceptores que até hoje acreditam que enxaqueca é frescura. “Coisa de quem quer chamar atenção”. Professores de outras áreas cuja aula pode até ser excelente, mas cujo tópico não é enxaqueca.
Imagine um professor/preceptor muito admirado pelos alunos em função da qualidade de suas aulas. Suas opiniões sobre tópicos fora do tema das aulas também acabarão exercendo grande influência sobre os seus alunos. Essas opiniões podem acontecer na própria sala, após o término da aula em si, ou nos corredores. Basta o tópico surgir. Se, naquele momento, esse influenciador afirmar que enxaqueca é para chamar atenção; ou enxaqueca não tem nada a ver com o estilo de vida, essa afirmação poderá ser incorporada pelo aluno – o futuro médico – como verídica.
Neurologista é o único médico para enxaqueca?
Quando o médico se forma, pode optar por se especializar em neurologia. Esse curso de especialização compreende o estudo mais aprofundado possível de todas as dores de cabeça causadas por alterações que se podem detectar nos exames – sejam de laboratório (sangue, líquor, eletroencefalograma etc), imagem (raio-X, tomografia, ressonância, angiorressonância, etc), e/ou o exame físico e neurológico.
O problema é que na enxaqueca, todos os exames – físico, neurológico, de laboratório e de imagem – podem resultar absolutamente normais.
Infelizmente, o número de horas que o currículo de especialização em neurologia dedica à enxaqueca é, tipicamente, diminuto – em alguns lugares, quase zero.
E não estamos falando de algo que acontece somente do Brasil. Isso também ocorre nos Estados Unidos, Japão, praticamente no mundo inteiro.
É fato que no mínimo 70% do movimento de um consultório de neurologia é de pacientes com enxaqueca. Afinal, esta é uma doença crônica extremamente comum, e a percepção do público é procurar o neurologista em casos de dor de cabeça. Potencialmente, então, deveria o neurologista representar a melhor indicação de médico para enxaqueca.
Porém, o que se mais se vê na prática é uma multidão de pacientes mal diagnosticados e inadequadamente tratados, frequentemente encaminhados a inúmeros especialistas e submetidos a incansáveis investigações, devassados por sondas, agulhas, cateteres e até bisturis. Por fim, são descartados como desgraçados ilegítimos, cuja fisionomia dolorosa desesperadora acaba mal compreendida, mal diagnosticada e, por fim, desprezada.
O sintoma é apenas ouvido; mas a condição patológica negligenciada.
Muitos doentes e poucos médicos para enxaqueca
O fato é que existe um número insignificante de médicos – não só neurologistas, mas também de várias áreas de medicina – adquirindo conhecimento e se dedicando exclusivamente ao diagnóstico e tratamento da enxaqueca – em comparação a um número gigantesco de indivíduos – a estimativa é de até 1/5 da população – que padece com esse mal. Considerando simplesmente o número de enxaquecosos em comparação ao número de médicos existentes, fica claro, até por uma questão de importância em saúde pública, que não apenas neurologistas, mas todo e qualquer médico deveria saber diagnosticar e tratar, com competência, a enxaqueca.
Indústria farmacêutica: principal catalisador da educação médica em enxaqueca no Brasil
Em 1992, o Brasil contava com 150 milhões de habitantes. Estimava-se que até 30 milhões deles tinham enxaqueca. E não havia quase nenhum médico dedicado exclusivamente ao tratamento da doença.
Naquele mesmo ano, nasceu uma vontade/necessidade da indústria farmacêutica, de preparar médicos para o lançamento de uma nova classe de drogas. O primeiro medicamento da classe das triptanas, exclusivamente para tratar crises de enxaqueca, era lançado nos E.U.A. Logo seria a vez do lançamento no Brasil.
Naquele momento, a indústria investiu muito dinheiro em propaganda médica, sob o formato de educação médica – querendo dizer, informação sobre enxaqueca para médicos visando a prescrição das triptanas. O público-alvo dessa ação de marketing eram médicos neurologistas. Congressos, simpósios, associações e publicações médicas sobre enxaqueca foram viabilizados e prosperaram graças a esses investimentos.
Novos remédios, novos esforços de marketing
Ao longo do restante da década de 1990, mais remédios da classe das triptanas foram lançados mundialmente, e o investimento aumentou.
No ano 2003, o foco principal da propaganda deixou de ser apenas o remédio para crise. Ela passou a incluir o assim chamado tratamento preventivo. Drogas preventivas são aquelas que, se usadas diariamente, previnem as crises. O termo prevenir significa que, quando eficazes, essas drogas podem espaçar, diminuir a frequência das crises. Naquele ano, o lançamento do Topiramato no Brasil foi acompanhado de grandes ações de marketing. Matérias na mídia de massa davam a entender praticamente “o fim da enxaqueca”. Lado a lado com as ações de relações públicas, se deu a propaganda médica, sempre voltada para neurologistas.
Desde então, tivemos também ações voltadas à divulgação da toxina botulínica para o tratamento de enxaqueca, seguindo moldes similares.
Fabricantes de alguns antidepressivos também investiram na divulgação de seus produtos para o tratamento da enxaqueca, através da propaganda médica.
O resultado é uma geração de médicos neurologistas que aprenderam a diagnosticar e tratar enxaqueca com essas e outras drogas. Isso representa um imenso progresso em comparação ao período anterior a 1992.
E por trás desse grande avanço, temos a indústria farmacêutica a agradecer. Muito mais pacientes, até então sem diagnóstico, passaram a ser levados a sério e receber tratamento resultando em alívio.
Enxaqueca = “Falta de remédio para enxaqueca no organismo”?
Por outro lado, o resultado tambem é uma geração de “especialistas em enxaqueca” (as aspas são porque o termo especialista em enxaqueca não é válido e não pode ser utilizado – clique aqui para saber o motivo) lidando, na prática clínica, com a enxaqueca como se ela fosse um “estado de deficiência de topiramato, e/ou antidepressivos, e/ou toxina botulínica, e/ou triptanas, etc., no organismo”.
Em outras palavras: uma vez fechado o diagnóstico de enxaqueca, segue-se, simples e unicamente, uma receita de remédio para enxaqueca.
Não se dá, na prática, a atenção necessária para o estilo de vida de cada paciente. Ignora-se a influência do sono, da alimentação, da gestão do movimento e das emoções, sobre essa doença crônica que é a enxaqueca. O que importa parece ser apenas a prescrição de remédios e procedimentos padronizados, massificados. A cultura prevalescente é que a solução vem unicamente de fora, e não de dentro.
Tratamentos não-farmacológicos da enxaqueca
Além de intervenções no estilo de vida – sono, alimentação, gestão do movimento e das emoções -, existem intervenções não farmacológicas. Estudos científicos publicados em revistas médicas demonstraram a eficácia de várias dessas intervenções.
Certas técnicas de acupuntura e vários remédios naturais são exemplos de tratamentos não farmacológicos. Estes tratamentos são quase sempre menos agressivos. Em outras palavras, possuem menos efeitos colaterais que as drogas farmacêuticas. E não são obrigatoriamente menos eficazes que elas, quando bem prescritos. Isso é especialmente verdadeiro quando se unem esses tratamentos a mudanças de hábitos e estilo de vida, através da orientação e supervisão médica.
Lembrando que é possível ao médico unir mudanças de estilo de vida com tratamentos não-farmacológicos e, ao mesmo tempo, lançar mão de drogas farmacêuticas se/quando necessário. Esse tipo de estratégia de tratamento, baseada numa ação conjunta, só tem a beneficiar o paciente.
Portanto, quando penso num médico para enxaqueca, vislumbro um profissional capaz de transitar por todas essas estratégias terapêuticas.
O problema é que, muitas vezes, o médico pode conhecer muito bem um tipo de tratamento – digamos, acupuntura – mas não ter tanta familiaridade com outros tipos de intervenção, sejam elas farmacológicas ou não.
Mas é claro que nem tudo está perdido. Felizmente, o número de médicos dedicados exclusivamente ao tratamento da enxaqueca, e capazes de integrar o tratamento numa ação conjunta conforme descrito acima, está aumentando. De qualquer modo, conforme já afirmei, até mesmo médicos que tratam a enxaqueca unicamente com remédios podem ajudar muito seus pacientes.
Agora que expliquei minha visão sobre os desafios para localizar um médico para enxaqueca, posso oferecer, a seguir, minha opinião pessoal sobre:
Como Procurar um Médico Para Enxaqueca?
- Vários sites oferecem listas de médicos para enxaqueca. Pesquise;
- Busque recomendações entre amigos que sofrem do mesmo mal;
- Use redes sociais para obter recomendações de quem já se tratou;
- Tente encontrar artigos ou vídeos do médico escolhido. Avalie o conteúdo;
- Fique longe de quem garante 100% de bons resultados. Isso não é real;
- Procure um médico amistoso, com palavras e pensamentos positivos;
- Encontre um médico que goste de dar explicações;
- Busque um médico atencioso;
- Após a consulta, avalie seu grau de satisfação;
- Ao decidir embarcar num tratamento, siga à risca as orientações médicas.
Na minha opinião, a melhor pessoa para se pedir uma indicação é outro portador de enxaqueca, que esteja tão satisfeito com o resultado do seu tratamento a ponto de indicar o médico dele(a) para você.
A escolha do seu médico para enxaqueca é uma decisão pessoal
Em última análise, você deve procurar um médico que dedique tempo para ouvir seu problema, encontrar respostas e cuidar de você.
Informações
Agendamento
Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
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