O Poder do Efeito Placebo
Cientistas efetivamente demonstraram que metade do efeito do remédio para enxaqueca é placebo. Colocado assim, isso pode causar indignação entre muitos portadores da doença. Afinal, quem tem enxaqueca já sofre com o preconceito de tanta gente nesse mundo que acha que enxaqueca é frescura, “psicológica”, algo que você está inventando. A primeira reação é : “-Só faltava agora um estudo dizendo que qualquer ‘comprimido de açúcar’ tira a crise de enxaqueca. Só se for a enxaqueca de outra pessoa, não a minha!”
Recebi muitos comentários, no Facebook, como este:
A Explicação do Estudo com Placebo
Na verdade, este é um estudo muito inteligente e merece ser bem explicado, a fim de não atrair preconceitos indevidos, nem irritação indevida por parte dos enxaquecosos.
Como, então, foi realizado o estudo?
Cientistas de Harvard analisaram 450 crises de enxaqueca em 66 pacientes. Em cada crise, era fornecido ao paciente um comprimido retirado de uma destas três embalagens:
- Uma embalagem etiquetada “Maxalt” – sendo que dentro dela existia um comprimido contendo rizatriptano (droga consagrada para crise de enxaqueca que recebe o nome comercial Maxalt) OU um comprimido contendo placebo (placebo, neste caso, é um comprimido com o formato, cor, aspecto, odor, tamanho e sabor perfeitamente idênticos àquele contendo rizatriptano, porém composto inteiramente de uma substância inerte, sem qualquer ação sobre a enxaqueca);
- Uma embalagem etiquetada “Placebo” – sendo que dentro dessa embalagem existia um comprimido contendo placebo OU um comprimido contendo rizatriptano (Maxalt); e
- Uma embalagem etiquetada “Maxalt Ou Placebo” – sendo que dentro desta embalagem existia um comprimido contendo rizatriptano (Maxalt) OU um comprimido contendo placebo.
Resumindo: todas as 3 embalagens continham 1 comprimido de maxalt OU um comprimido de placebo.
Expectativa Positiva versus Negativa
Portanto, quando alguém recebia um comprimido rotulado como “Placebo”, porém na verdade contendo Maxalt, esse alguém estava, de fato, recebendo o remédio, porém acompanhado de uma expectativa negativa, uma vez que no rótulo dizia que aquilo era nada mais que uma “pílula de açúcar”.
Ao contrário, quando alguém recebia um comprimido rotulado como “Maxalt”, porém na verdade contendo placebo, esse alguém estava na verdade sendo tratado com nada mais que expectativa positiva, ou seja, a expectativa de estar tomando um remédio de eficácia consagrada para o tratamento da crise de enxaqueca.
Já quando alguém recebia um comprimido rotulado como “Maxalt ou Placebo”, esse alguém sabia que tinha chance de 50% do comprimido ser Maxalt, e 50% dele ser placebo, resultando assim numa expectativa neutra.
Cada um dos 66 pacientes que participaram do experimento relatou o grau de melhora da dor de cabeça após a tomada do comprimido, designado aleatoriamente, em cada crise. Ficou também combinado que em algumas das crises, não seria ministrado nenhum tratamento, ou seja, não seria fornecido nenhum comprimido com nenhum dos rótulos.
Finalmente, após um total de 450 crises de enxaqueca nestes 66 pacientes, os resultados foram avaliados através de análises estatísticas dentro dos mais rigorosos padrões científicos.
O Enorme Poder da Expectativa Positiva
A melhora mais pronunciada da dor de cabeça da crise de enxaqueca ocorreu naqueles pacientes que receberam os comprimidos com o rótulo de “Maxalt” – não importanto se receberam de fato o Maxalt ou o placebo!
Já quem recebeu comprimidos contendo o rótulo “Placebo” relataram índices de alívio da dor de cabeça significativamente menores, não importando se na verdade tomaram Maxalt.
O menor grau de melhora da dor ficou para aquelas crises que não receberam tratamento algum. Interessantemente, em termos estatísticos, até mesmo quem tomou de fato o placebo teve melhora maior que os indivíduos para quem não foi dado nenhum tratamento, nenhum comprimido.
Por Que Este Estudo é Muito Importante
Bem, agora que você leu a explicação, já entendeu que não é para ter raiva de um estudo como este. Pelo contrário, é preciso compreender as lições que ele fornece. É preciso, também, mostrar esta explicação para todo mundo que você conhece e que possa, porque não leu ou compreendeu o estudo, ganhar algum preconceito contra quem sofre de enxaqueca e achar que o estudo comprova que enxaqueca é frescura. Longe disso, o estudo se dedica, da forma mais inteligente possível, a mostrar o que, na verdade, provoca a melhora da dor. E chega à conclusão que a expectativa da melhora é tão importante quanto o remédio fornecido.
- Lição n° 1: A pessoa do médico é importante. Se o seu médico (e a secretária , e toda a equipe dele) é otimista, te deixa super à vontade, te passa uma sensação de segurança e bem-estar, este médico está colaborando para criar uma expectativa positiva. E a partir de agora, graças a este estudo, está cientificamente comprovado que a expectiva positiva é literalmente meio caminho andado.
- Lição n° 2: A família e os amigos são importantes. Se o namorado, marido, mãe, pai, irmãos, amigos, chefe e colegas de trabalho te apóiam, isso ajuda a criar uma expectativa positiva. –”Você vai ficar boa, e logo – você vai ver!”. –”Vamos juntos consultar esse médico de quem ouvi falar muito bem.” Palavras assim caem como um bálsamo para quem tanto precisa de apoio e compreensão. E a partir de agora fica comprovado que fazem muito efeito. Carinho é importante e ajuda a tratar a doença – eu já escrevi sobre isso e você precisa clicar aqui para ler (ou reler) agora mesmo! Volte aqui logo em seguida.
- Lição n° 3: Você é importante. Qualquer médico bom sabe que o paciente que vem para o consultório de peito aberto, com otimismo genuíno, entra automaticamente para o grupo dos que costumam melhorar. E vice-versa. E mais: isso não vale somente para a enxaqueca ou dor de cabeça, mas para qualquer doença. Aliás, das 3 lições enumeradas, esta é a mais importante. Sem esta, as outras duas simplesmente não adiantam. Você somente pode se contagiar da energia positiva (ou melhor, expectativa positiva) dos outros, se a sua própria estiver “viva”. O estudo demonstra que as expectativas, esperanças e crenças constituem a base do efeito do tratamento dos sintomas.
Com essas 3 lições, a chance do seu tratamento funcionar aumenta vertiginosamente. Claro que o médico também precisa “colaborar”, criando a estratégia de tratamento mais apropriada para o seu caso. O que nos leva a uma outra importante lição a ser aprendida graças a este estudo:
- Lição n° 4: Não existe “melhor” tratamento para todos, mas sim para você. Na verdade, o estudo demonstra o quanto o tratamento da enxaqueca precisa ser individualizado para realmente ter chance de funcionar. Ou seja: se tratar o paciente como um número e simplesmente prescrever “remédio para enxaqueca”, como se um caso fosse igual ao outro, esse descaso com o indivíduo realmente fará, em termos populacionais (dentro da população de portadores de enxaqueca) – no máximo! – o mesmo efeito que placebo.
Lições aprendidas? Então vamos nos animar e trazer cada vez mais expectativas positivas para nossa alma, a fim de poder melhorar – ou se você é médico, tratar ainda melhor o seu paciente. Você, leitor(a), pode começar agora mesmo animando outros a lerem este artigo, e por que não, deixar seu comentário otimista.
LEIA MAIS:
O LIVRO QUE NÃO PODE FALTAR NA VIDA DE QUEM TEM ENXAQUECA
FUJA DOS NOTICIÁRIOS
Informações
Agendamento
Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
Atendimento Online e Presencial