A enxaqueca é uma doença que ocorre comumente em membros da mesma família. Como já escrevi anteriormente, crianças muito pequenas e até bebês podem apresentar dor de cabeça e outros sintomas de enxaqueca. Além disso, estudos comprovam que triplicou o número de crianças com enxaqueca entre as décadas de 1970 e 90. Na minha opinião, esse aumento vertiginoso não é surpreendente, tendo em vista as cada vez piores refeições que elas fazem, cada vez piores noites que dormem e cada vez piores estímulos que recebem.
A estatística mostra que cerca de 10% das crianças têm enxaqueca. Esse número já seria suficientemente preocupante, mas na minha opinião ele é bem maior.
Por que? Pela razão que o diagnóstico de enxaqueca é feito a partir de uma série de perguntas que o médico faz ao paciente (ou seus pais), sobre seus sintomas. O critério oficial da Sociedade Internacional de Cefaléia para se estabelecer um possível diagnóstico de enxaqueca inclui certos pré-requisitos, entre os quais: pelo menos 5 episódios prévios com dor de cabeça (preferivelmente localizada em apenas um dos lados da cabeça, podendo mudar de lado), de intensidade moderada a severa, duração entre 4 horas e 3 dias, com aversão à claridade e/ou barulho, náuseas (enjôo) e/ou vômitos.
Agora, pergunto: Quanto é possível atrasar um diagnóstico oficial de enxaqueca, simplesmente porque a criança ainda não teve 5 episódios com todas essas características? Principalmente a duração! Minha experiência clínica mostra que entre as crianças mais novas, os episódios de dor de cabeça giram muito freqüentemente em torno de uma média de 1 hora, raramente alcançando o mínimo de 4 horas exigido para o diagnóstico. Pior ainda, essa criança precisaria ter pelo menos cinco episódios de no mínimo 4 horas cada, para poder receber um diagnóstico “oficial” de enxaqueca! Quanto tempo – quantos anos! – ela precisará esperar para receber um diagnóstico e tratamento adequado? Se 10% das crianças até 12 anos têm enxaqueca segundo os critérios oficiais, quantas estarão excluídas desse diagnóstico só porque não preencheram alguns critérios burocráticos?
Enquanto isso, essas crianças sem diagnóstico continuarão percorrendo as salas de pronto-atendimento, consultórios, laboratórios, e passando por pediatras, neurologistas, otorrinos, gastros, numa infindável linha de produção de exames e procedimentos à busca desse diagnóstico. Quanto sofrimento! Mais que isso: uma dor de cabeça crônica sem diagnóstico e tratamento adequado pode significar, para uma criança, uma vida inteira de baixo rendimento.
Por esse motivo, a questão é complicada. O diagnóstico precoce de enxaqueca em crianças requer, do médico, não apenas experiência, mas também ousadia para questionar alguns “critérios oficiais” aprendidos nos congressos, cursos e livros.
Muitas dores de cabeça não são enxaqueca, e suas causas precisam ser investigadas! Doenças como a meningite e sinusite, por exemplo apresentam a dor de cabeça entre seus possíveis sintomas. Mas, assim como na enxaqueca, o diagnóstico dessas doenças não é feito a partir de um único sintoma. Muitas vezes, é necessário um certo tempo. Pode ser preciso manter a criança com dor de cabeça sob observação – seja pelos próprios pais, em casa, seja pelos médicos, num ambiente hospitalar, em casos mais graves – antes de se estabelecer um diagnóstico. Tudo isso requer, antes de mais nada, uma detalhada conversa com os pais, durante a consulta, a fim de estabelecer uma relação mútua de cooperação e confiança, tão necessárias para um diagnóstico preciso e tratamento eficaz.
O que tenho constatado na nossa realidade é uma valorização excessiva da tecnologia, e uma minimização do bom senso – inclusive de muitos pais, que muitas vezes exigem de seus médicos mil pedidos de exames e mil remédios mirabolantes. Os exames, quando vêm com “bons resultados”, tranquilizam a todos, porém não resolvem o problema da criança: a dor de cabeça e a enxaqueca.
Dor de cabeça não é manha de criança. Dor de cabeça não é tentativa de fugir dos deveres da escola. Dor de cabeça não é conversa para boi dormir. Dor de cabeça requer atenção médica. Sempre!
Ao levar seu filho com dor de cabeça ao médico, tenha tudo isso em mente. Escolha um profissional competente que entenda do assunto e faça com ele uma parceria saudável!
Atenção: O artigo que você acaba de ler aborda apenas o tópico de levar a criança com enxaqueca ao médico. Você precisa ler agora meu artigo geral sobre enxaqueca em crianças.
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