O que é hipertensão intracraniana idiopática?
Hipertensão intracraniana idiopática é um aumento na pressão do líquido que banha o cérebro, denominado líquido cefalorraquidiano (abreviação: LCR). Também chamado de líquido cerebroespinal, ou líquor. A doença também é conhecida como hipertensão intracraniana benigna, ou pseudotumor cerebral. Sintomas incluem dor de cabeça e alterações visuais. É importante conhecer para não confundir com enxaqueca.
Cansou de ter dor? Clique aqui
Líquor – Mas que líquido é esse?
O líquido cefalorraquidiano (LCR), ou líquor, é um líquido transparente de aspecto límpido como água. Ele banha o cérebro e medula espinhal. Esse líquido se localiza entre duas meninges. Meninges são membranas parcialmente permeáveis, como se fossem “sacos plásticos” envolvendo o cérebro e a medula.
O líquor tem cinco funções:
- Sustentação e amortecimento: Você mexe a cabeça, acelera e desacelera o seu corpo enquanto anda, corre, dança, pula, bate a cabeça etc. Enquanto isso, graças ao líquor seu cérebro não fica batendo à toa no crânio e sofrendo traumas desnecessários. O cérebro e medula ficam literalmente boiando, flutuando em suspensão, no líquor. Assim, um cérebro que pesa 1,5 kg não fica exercendo atrito sobre o assoalho do crânio.
- Aporte de nutrientes: o líquido cerebroespinal contém açúcar (glicose), proteínas e gorduras. Além disso, contém sais minerais (chamados eletrólitos), que fornecem nutrição essencial ao cérebro e medula. Esses eletrólitos e constituintes bioquímicos também mantêm a pressão osmótica desse líquido, vital para a manutenção da perfusão normal do cérebro.
- Eliminação de resíduos indesejáveis, os quais atravessam uma das meninges, chamada aracnoide, e são drenados no sistema venoso e linfático.
- Manutenção da temperatura do cérebro e da medula.
- Imunidade: O líquido cefalorraquidiano contém anticorpos e células como linfócitos e monócitos, que participam do sistema imunológico.
O líquido cerebroespinhal é sempre reciclado. Em outras palavras, ele é fabricado continuamente em regiões do cérebro denominadas ventrículos, e drenado continuamente para a circulação sanguínea.
O que causa hipertensão intracraniana
Se a quantidade de líquido que é fabricada for superior à capacidade de reabsorção para o sistema venoso, haverá um acúmulo constante. O resultado é um aumento excessivo da pressão que esse líquido exerce sobre o cérebro, cada vez mais comprimido por ele.
A hipertensão intracraniana idiopática também recebe o nome de pseudotumor cerebral. O prefixo pseudo provém do termo grego ψευδής, pseudes, que significa “mentiroso”, “falso”, e designa algo que aparenta, na superfície, ser (ou se comportar como) uma coisa, mas que na realidade é outra. Então pseudotumor quer dizer algo que se comporta como se fosse um tumor (uma massa que comprime o cérebro), causando sintomas como se fossem de tumor, mas onde, na verdade, o tumor está ausente.
Sintomas
Os sintomas da hipertensão intracraniana idiopática compreendem:
- Dor de cabeça que tipicamente melhora na posição ereta (sentada ou em pé). Nesta posição, a gravidade ajuda a aliviar a pressão do líquor sobre o cérebro, distribuindo-o mais facilmente para baixo. Por outro lado, a dor piora na posição deitada. Nessa osição, fica mais fácil esse líquido subir ao cérebro e exercer mais pressão. Por favor, não confunda essa “piora na posição deitada” com aquilo que acontece frequentemente na enxaqueca, onde é possível ser acordado de madrugada pela crise de dor de cabeça, ou ter uma crise desencadeada por uma soneca durante o dia);
- Tinnitus pulsátil – “barulho no ouvido”, como se fosse um coração batendo, provavelmente sendo causado por um fluxo turbulento do sangue proveniente da região hipertensa de dentro do crânio, para a região de baixa pressão da veia jugular, que drena esse sangue. O “barulho no ouvido” não precisa ser necessariamente pulsátil, podendo ocorrer continuamente;
- Sintomas visuais: Conforme aumenta a compressão do líquido sobre o cérebro, aumenta também a pressão nos nervos que se localizam atrás dos olhos, os chamados nervos ópticos (um de cada lado). Possiveis sintomas incluem visão embaçada, visão dupla e/ou perda da visão periférica, e episódios intermietentes de perda da visão. O exame de fundo de olho pode revelar um inchaço na área circular onde o nervo óptico se conecta com a retina, e que se chama disco óptico ou papila óptica. O inchaço na papila óptica (ou disco óptico) recebe o nome de papiledema ou edema de papila. Se não tratado, pode evoluir para perda da visão.
- Tonturas, vertigens, náuseas, vômitos, diminuição da memória, rigidez de nuca e outros sintomas inespecíficos (ou seja, que nem de longe são exclusivos da hipertensão intracraniana idiopática).
Não é necessário ter todos esses sintomas para ter hipertensão intracraniana idiopática.
Como se diagnostica?
Cansou de ter dor? Clique aqui
A primeira suspeita clínica é através dos sintomas, chamando atenção para aqueles de dor de cabeça que sempre melhora na posição sentada ou em pé, e piora na posição deitada; e dos sintomas visuais. Nem todos os pacientes, no entanto, têm esse padrão de dor de cabeça (que piora deitado e melhora sentado ou em pé), o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico.
Fundo de olho
Pacientes que “sempre” sofreram de enxaqueca e começaram a apresentar sintomas diferentes, como perda da visão periférica (num padrão diferente daquele da aura de enxaqueca), perdas intermitentes da visão, piora inexplicável da dor e surgimento de fatores diferentes de melhora e piora (ex: passou a piorar quando deitada, quando antes isso não acontecia), com ressonância magnética normal, merecem investigação médica para eliminar a possibilidade de hipertensão intracraniana idiopática.
Uma das primeiras iniciativas do médico que suspeita desta doença pode ser encaminhar o paciente a um oftalmologista, para exame de fundo de olho à busca de papiledema, conforme explicado acima. A presença do papiledema na vigência destes sintomas praticamente confere certeza diagnóstica. Lembrando que o exame de fundo de olho não é invasivo, portanto na minha prática diária, este é a primeira atitude que tomo perante a suspeita de hipertensão intracraniana idiopática.
Pressão alta na sua forma grave deve ser descartada
Em ambiente de pronto atendimento, também é importante aferir a pressão arterial desse paciente, pois em casos de pressões arteriais acima de 18/12, sintomas visuais semelhantes podem ocorrer, além de dor de cabeça. Nesse caso, o controle da pressão arterial já basta para resolver os sintomas.
Angiorressonância venosa
A ressonância magnética pura e simples não é um exame que costuma ajudar no diagnóstico, pois costuma resultar normal nestes casos. Ocasionalmente, no entanto, pode aparecer um achatamento da região posterior do globo ocular, que confere forte suspeita da doença.
Já a angiorrresonância da fase venosa, com contraste, pode revelar um “estreitamento” de estruturas como os seios sigmoide e transverso. Esses seios são como se fossem “lagos” venosos dentro do crânio, que recebem sangue de veias provenientes das meninges. E essa alteração dá praticamente a certeza diagnóstica ao médico.
Punção Lombar
Neste procedimento,uma agulha é inserida entre duas vértebras da região lombar, no intuito de ter acesso ao líquor. Nessa hora, é possível medir diretamente a pressão que essa coluna de líquido exerce sobre um manômetro acoplado. Caso esteja alta, está feito o diagnóstico.
Tratamento
Existem diuréticos especiais que podem baixar a pressão intracraniana; existem até cirurgias, entre outros tratamentos. Mas o mais importante é tentar estabelecer, antes de mais nada, uma estratégia para se minimizar quaisquer fatores associados a essa doença.
Um dos fatores principais associados à hipertensão intracraniana idiopática é obesidade. Se for esse o caso, é imprescindível adotar um estilo de vida que compreenda boa alimentação, sono e atividade física, a fim de reverter o quanto antes o excesso de peso. Todos as pessoas, na verdade, até mesmo as que não estão doentes, deveriam se cuidar para prevenir o ganho excessivo de peso.
Aliás, um bom estilo de vida está por trás da prevenção e recuperação de qualquer doença! Sono, alimentação, gestão do movimento e gestão das emoções são os quatro pilares do estilo de vida saudável. Eu abordo diretamente esses pilares no meu livro e também no meu curso. Clique nos links para conhecer ambos, e providenciá-los o quanto antes para melhorar sua vida. Aproveite e assine gratuitamente a minha Newsletter.
Causa desconhecida
A hipertensão intracraniana idiopática pode estar associada ao uso de certos remédios como por exemplo, pílula anticoncepcional, certos antibióticos, quimioterápicos, corticóides e remédios para acne.
Embora existam uma série de possíveis fatores associados, não se conhece até hoje a causa da hipertensão intracraniana idiopática. Nem todo indivíduo obeso, ou que toma pílula, por exemplo tem a doença – então esses fatores não são causas, não é mesmo?
Aliás, sempre que se utiliza, em medicina, o termo “idiopático”, ou “idiopática”, é importante lembrar que esse termo vem do prefixo grego ἴδιος (idios), “de si mesmo” e πάθος (pathos) “sofrimento, doença” – então, “uma doença em si mesma”, cuja real causa é um mistério.
Conclusão
Portanto, o melhor tratamento é aquele que visa minimizar os sintomas (por exemplo, diuréticos, cirurgia etc, variando para cada caso), associado a uma otimização do estilo de vida.
Informações
Agendamento
Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
Atendimento Online e Presencial