Você sabia que a indústria farmacêutica oferece artigos que foram escritos e elaborados por indivíduos que ela contrata, para serem assinados por grandes nomes da medicina dos Estados Unidos?
Funciona desta maneira: alguém (pessoa ou grupo de pessoas obscuras) é pago pela indústria farmacêutica para ficar nos bastidores (“escritor-fantasma”, em inglês ghostwriter) e escrever um artigo científico favorável ao seu produto (droga). Em seguida, a indústria entra em contato com um grande médico para unicamente assinar seu nome nesse trabalho no qual ele não participou e muitas vezes nem sequer leu, em troca de dinheiro, prestígio ou ambos.
Este site canadense entrevistou um desses escritores-fantasma, preservando sua identidade. Na entrevista, ele explica que recebe uma diretriz daquilo que deve escrever, e quais estudos ele deve citar em seu artigo. Quando o entrevistador pergunta: “Eles não lhe fornecem os estudos com resultados negativos?”, ele responde: “Certos efeitos adversos não são discutidos. Simplesmente não são trazidos à tona”.
Em outras palavras, o escritor-fantasma é pago para escrever apenas sobre os resultados positivos. Os efeitos colaterais ruins, que podem ameaçar a segurança do paciente, simplesmente não são mencionados.
O escritor-fantasma entrevistado neste artigo ganha mais de cem mil dólares por ano como ghostwriter. Quando o artigo escrito por ele consegue ser publicado num Lancet, New England Journal of Medicine ou British Medical Journal, ele recebe um bônus de até 20 mil dólares.
Uma vez escrito pelo ghostwriter, o artigo é assinado por algum figurão da medicina, em troca de somas em dinheiro que, segundo esta matéria, variam entre US$3000 e US$10000 por assinatura). Quanto mais célebre e conhecido o figurão, mais credibilidade (e portanto probabilidade de publicação em revista científica conceituada) o artigo terá.
A matéria também mostra alguns casos que foram descobertos.
A médica Marcia Angell, editora-chefe durante dez anos da prestigiosa New England Journal of Medicine, afirmou, segundo esta matéria da revista Forbes, que a prática de ghostwriting é muito comum em medicina.
Alguns escândalos envolvendo ghostwriting foram descobertos, como este, publicado pela CBS News.
Infelizmente, a prática de ghostwriting parece ser uma realidade até mesmo aqui no Brasil. A Revista da Associação Médica Brasileira possui, na sua edição de maio/junho de 2007, um excelente artigo com o título: “Escritores-fantasma e comércio de trabalhos científicos na internet: a ciência em risco”. Vale à pena clicar no link, ler e pensar.
Esse tipo de notícia é importante não apenas para quem tem enxaqueca, mas para qualquer pessoa que, ingenuamente, “acredita” em tudo aquilo (e às vezes, somente naquilo) que está publicado em revistas médicas de alto impacto, como se fossem “verdades científicas” incontestáveis. Infelizmente, este é o caso da maioria de nós. Por isso, vamos refletir.
Termino o artigo com a seguinte pergunta do escritor-fantasma entrevistado na matéria canadense: “Terá o paciente ganho a receita de uma droga porque é a melhor possível, ou porque está mais favoravelmente posicionada?”
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