Enxaqueca em Crianças é Mais Comum que se Pensa
Cerca de 10% das crianças em idade escolar sofrem de enxaqueca. Metade dos adultos enxaquecosos tiveram sua primeira crise de enxaqueca antes dos 12 anos de idade. Até a idade de 17 anos, cerca de 8% dos meninos e 23% das meninas já tiveram pelo menos uma crise de enxaqueca. Se levarmos em conta que essas estatísticas dizem respeito apenas aos casos diagnosticados, e considerando que o número de casos não diagnosticados deve ser muito maior, podemos concluir que enxaqueca em crianças é muito mais comum que se imagina.
Enxaqueca em crianças: Muito Além de uma Dor de Cabeça
Embora o sintoma mais dramático e conhecido da enxaqueca em crianças costume ser a dor de cabeça, é importante apontar que dor de cabeça não é necessariamente o único sintoma da enxaqueca. Aliás, a dor de cabeça pode ser leve ou até mesmo estar ausente numa criança durante uma crise de enxaqueca!
Outros sintomas, como mal-estar digestivo, falta de apetite, dor de barriga, diarreia, enjôo (náuseas), vômitos, hipersensibilidade ao toque do couro cabeludo (dói para pentear o cabelo, enxugar a cabeça ou quando alguém faz carinho na cabeça), tontura, moleza, letargia, sonolência, bocejos e até alterações do humor, podem ocorrer durante uma crise de enxaqueca. Crianças com enxaqueca podem ter entre um e todos esses sintomas, e podem até mesmo ter crises de enxaqueca sem dor de cabeça, ou com dor de cabeça leve. Em crianças pequenas, a enxaqueca costuma durar meia a uma hora, sendo que por volta da adolescência essa duração vai aumentando para uma faixa entre 3 horas e 3 dias.
Enxaqueca Causa Impacto na Qualidade de Vida de Crianças
Crianças podem ter crises incapacitantes de enxaqueca, resultando em prejuízo do aproveitamento escolar, faltas às aulas, cancelamento de atividades sociais, prejuízo do desempenho esportivo e todas as desagradáveis consequências advindas dessas incapacidades.
Além disso, sofrem com grave preconceito: professores e diretores de escola que não “aceitam” faltas por enxaqueca (o que é um absurdo, uma vez que enxaqueca é doença, oficialmente falando – e não “frescura”);
A criança com enxaqueca pode ter prejuízo na interação com outras crianças, falta de compreensão e discórdia por parte de amigos e familiares.
A própria criança com enxaqueca pode desenvolver ansiedade pelo temor de, a qualquer momento, poder ter suas aulas, atividades sociais e esportivas, finais de semana e férias prejudicadas por crises de enxaqueca totalmente imprevisíveis, e ainda por cima sofrer pesadas críticas por causa disso.
Enxaqueca em Bebês e Crianças que Ainda Não Falam
Bebês podem ter enxaqueca e, nesses casos, a comunicação pode ser um problema. Presenciei bebês com crises de choro desesperador, durante as quais levavam as mãozinhas à cabeça. Nesse caso fica fácil desconfiar que estariam com dor de cabeça. Porém, nem sempre é fácil obter pistas para formar uma suspeita diagnóstica de enxaqueca em crianças que ainda não falam.
Por exemplo, o bebê pode ter crises de choro e não levar as mãos à cabeça e mesmo assim pode estar com uma crise de enxaqueca, até porque uma crise de enxaqueca não inclui necessariamente dor de cabeça – ou a dor pode não ser tão forte. O choro pode ser acompanhado de regurgitação de alimento ao invés de vômito. Ou ser acompanhado de vômito, e confundido com “virose”. E após cerca de 20 a 40 minutos, a criança para de chorar e dorme, depois acorda como se nada tivesse acontecido, deixando pais, familiares e às vezes até médicos completamente perdidos. Na falta de uma suspeita diagnóstica de enxaqueca, essa criança pequena pode estar sendo tratada, inutilmente, como se tivesse algum outro problema – muito embora os exames médicos e laboratoriais insistam em resultar normais.
Dificuldades do Diagnóstico de Enxaqueca em Crianças
Qualquer criança com dor de cabeça e/ou os sintomas recorrentes acima, deve ser consultada por um médico, ao qual caberá fazer um diagnóstico, ou seja, determinar qual a doença que está provocando essa dor de cabeça e/ou sintomas recorrentes. A definição da enxaqueca, e portanto seu diagnóstico, é com base nos sintomas e não nos mecanismos. O motivo disso é que os mecanismos da enxaqueca até hoje não foram desvendados em sua totalidade pela medicina. É preciso muita prática e competência para um médico diagnosticar enxaqueca numa criança.
Não existem exames de sangue, de imagem, ou de qualquer outro tipo, capazes de diagnosticar uma enxaqueca. O diagnóstico da enxaqueca, tanto em adultos quanto crianças, é feito com base na entrevista com os pais/responsáveis, bem como o exame que médico faz no paciente. Exames de laboratório, imagem, etc, poderão ser solicitados – eventualmente – pelo médico com a finalidade de excluir outras suspeitas diagnósticas além da enxaqueca, que o médico possa ter levantado.
Aliás, requer-se uma boa experiência do médico face a uma criança com suspeita diagnóstica de enxaqueca, justamente pelo fato dessa suspeita ser baseada em sintomas que podem muito bem não ser de enxaqueca, e sim de outra(s) doença(s). Daí a importância de diferenciar entre um diagnóstico de enxaqueca versus outras possíveis causas de dor de cabeça – e particularmente no caso de crianças, de outras possíveis causas para os sintomas fora a dor de cabeça. Apenas após excluídas essas outras possíveis causas é possível firmar diagnóstico de enxaqueca numa criança.
Tratamento da Enxaqueca em Crianças
Na minha experiência clínica, crianças quase sempre respondem muito bem aos tratamentos médicos menos agressivos possíveis, desde que associados a mudanças de hábitos e estilo de vida envolvendo alimentação, sono e outros aspectos-chave da gestão do dia-a-dia. Estou terminando de escrever um livro sobre enxaqueca em crianças – que será um dos primeiros e únicos livros no mundo a tratar exclusivamente sobre esse importante tema, voltado especificamente para o público em geral.
A medicina utiliza dezenas de drogas para tratar enxaqueca em adultos, entre as quais antidepressivos, anticonvulsivos, betabloqueadores, antiinflamatórios, derivados da ergotamina etc. Porém quase nenhuma delas têm aprovação oficial dos órgãos competentes (como o FDA, Food and Drug Administration dos Estados Unidos), para uso específico em crianças com enxaqueca. Muitas são usadas mesmo assim, face ao sofrimento da criança com enxaqueca. Felizmente, como mencionei anteriormente, muitas crianças poderiam escapar de drogas repletas de efeitos colaterais, apenas com boa orientação médica quanto aos hábitos e estilo de vida do paciente e familiares ao redor, aliada a tratamentos não farmacológicos. Existem, por exemplo, técnicas de acupuntura sem agulhas que são realizadas por médicos e que, na minha opinião e experiência, podem, em conjunto com mudanças ambientais e comportamentais, resultar na tão esperada melhora da frequência, intensidade e duração dos sintomas da enxaqueca.
Consulte sempre um bom médico da sua confiança (procure sempre indicação entre seus amigos – na minha opinião um bom pediatra ou clínico-geral seria ideal) para obter uma estratégia de tratamento da enxaqueca, individualizada para a sua criança.
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