Calor, Tempo Quente e Verão Costumam Piorar Enxaqueca
Dor de cabeça crônica e enxaqueca são frequentemente agravadas durante o calor do verão. Até mesmo fora dessa estação, dias muito quentes podem predispor a crises em quem sofre de enxaqueca. Na verdade, locais abafados, por si só, podem ser o pontapé inicial para uma crise de enxaqueca. O mesmo pode acontecer pela transição de um ambiente com ar condicionado bem frio, para a temperatura ambiente, principalmente se estiver muito calor.
Existem várias possíveis explicações para isso. O conhecimento delas pode ser útil para evitar esse agravamento.
Assista o vídeo abaixo, para uma explicação completa.
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O Desconforto do Calor Já Predispõe
Antes de mais nada, enxaqueca é uma doença crônica, um desequilíbrio neuroquímico, que deixa o indivíduo predisposto a apresentar crises, mediante os mais variados estímulos, que, para outras pessoas, jamais provocariam nada disso.
Dentre esses estímulos, podemos afirmar que qualquer saída da rotina pode desencadear crise de enxaqueca.
Por exemplo, até mesmo saídas da rotina saudáveis, como iniciar um programa de exercício físico, ou exercício novo e/ou aumento da carga e intensidade do treino em quem já pratica, podem desencadear crise de enxaqueca em quem sofre dessa doença.
O exercício é só um exemplo. Uma ilustração. Da mesma forma, qualquer coisa que represente uma saída da rotina pode desencadear enxaqueca. Até gargalhar com muitas piadas de uma só vez. Ou passar nervoso, e assim por diante…
Ou passar calor. Na verdade, qualquer alteração climática significativa.
Consequentemente, se, num dia quente, você, ainda por cima, sair da rotina de alguma forma, a predisposição aumenta.
Ou seja, fica muito mais fácil ter crise de enxaqueca na vigência de clima quente e abafado.
Pode ser que o calor, sozinho, não te desencadeie enxaqueca. Mas, que você perceba um aumento da frequência e intensidade da dor de cabeça e sintomas associados durante o período de calor. Isso se explica pelo que escrevi no parágrafo anterior.
Quer dizer, é possível não detectar piora só pelo calor, ou só pelo exercício, por alguma contrariedade, etc. Mas quando existe a conjunção de fatores, aí o desencadeamento ser facilitado.
Dependendo, pode até ser difícil apontar exatamente o que desencadeou. Mas, apenas, perceber um aumento da dor de cabeça na vigência do calor.
Transpiração e Desidratação
Quando está calor, a transpiração aumenta.
E o que é a transpiração, senão a eliminação de água pelos poros da nossa pele?
Pergunto: De onde vem essa água, senão de dentro da gente?
Desse modo, quando transpiramos, estamos perdendo água.
Conforme você pode ler neste artigo, a água é fundamental para nossa sobrevivência. Ela atua como solvente da vida! Água é fundamental para todas as reações químicas que ocorrem dentro das nossas células.
No calor, a transpiração aumenta até mesmo quando não estamos nos exercitando. Mesmo se não suamos, estamos perdendo mais água através da transpiração invisível. Em outras palavras, a água eliminada pelos poros pode evaporar antes de se acumular na pele o suficiente para se condensar em gotas visíveis de suor. Mesmo em condições confortáveis de temperatura ambiente, nosso corpo perde cerca de meio litro de água por dia. E essa perda de água e sais minerais pelos poros aumenta com o calor.
Se a quantidade de água do corpo diminui, isso repercute num desequilíbrio hidroeletrolítico, que, por menor e mais imperceptível que seja, já é um stress para seu organismo.
Não estou falando aqui de um quadro franco de desidratação, mas sim, de uma desequilíbrio insuficiente para produzir os sintomas clássicos que definem a desidratação.
Muito antes desses sintomas ocorrerem, o organismo já está sofrendo. Esse sofrimento pode até ser pequeno, mas já constitui um fator predisponente a mais para quem sofre de enxaqueca.
Aplica-se o mesmo raciocínio que já expliquei anteriormente anteriormente: os fatores predisponentes vão se acumulando. Se, num dia quente e abafado, você, ainda por cima, estiver minimamente desidratado, fica ainda mais fácil ter uma crise de enxaqueca desencadeada por qualquer outra saída da rotina.
Aliás, essa outra saída da rotina pode ser tão mínima que você poderá nem sequer ficar sabendo qual foi!
Ou seja, poderá até ser incapaz de apontar um único fator que pudesse ter, visivelmente, desencadeado sua crise de enxaqueca naquele dia. Apenas, com o passar do tempo, poderá chegar à conclusão que períodos quentes, como o verão, agravam sua enxaqueca.
Calor Dilata Vasos Sanguíneos, mas isso NÃO predispõe à Enxaqueca
Conforme a temperatura do nosso corpo aumenta (por exemplo, num dia quente), uma área chamada hipotálamo é informada desse aumento através do sistema nervoso, e inicia um processo de estimulação, via o mesmo sistema nervoso, das arteríolas (artérias microscópicas) debaixo da pele (derme), para que elas se dilatem, a fim de dissipar o quanto mais o calor em excesso para o meio ambiente. Isso explica porque a pele fica mais rosada ou avermelhada quando nos exercitamos ou expomos ao calor.
(Ao mesmo tempo, o hipotálamo, através do sistema nervoso, estimula as glândulas sudoríparas a produzir mais suor. Essa perda de água pode chegar a meio litro a 1 litro e meio, por hora, através do suor, em condições extremas de calor e exercício.)
Além das arteríolas debaixo da pele, as veias próximas à pele da cabeça e também do resto do corpo se dilatam igualmente, em resposta ao aumento sustentado da temperatura. Essa dilatação serve, igualmente, para facilitar a dissipação de calor para o meio ambiente.
Muita atenção, agora, para a seguinte informação.
Toda essa dilatação, por si só, NÃO DESENCADEIA ENXAQUECA. Pelo contrário, é uma reação perfeitamente normal, natural, saudável e esperada do nosso corpo. Ela possui o propósito de restaurar e equilibrar a temperatura interna e diminuir/minimizar o stress causado ao nosso organismo pelo calor.
Ou seja, porque está calor e nossas veias e artérias se encontram dilatadas, isso não explica o aumento da predisposição à enxaqueca durante o período de temperatura quente. Qualquer afirmação em contrário não tem o menor fundamento.
A confusão reside no fato que a enxaqueca também provoca dilatação de vasos sanguíneos na cabeça. Porém, por um outro mecanismo, completamente diferente.
Na enxaqueca os vasos se dilatam por motivo diferente
Conforme se inicia a enxaqueca, um nervo craniano, chamado trigêmeo, provoca a liberação anormal de uma substância química que recebe o nome de peptídio relacionado ao gene da calcitonina, mais conhecido como CGRP (da abreviação do termo em inglês, calcitonin gene-related peptide). Essa substância é liberada na parede dos vasos sanguíneos pelos ramos do nervo trigêmeo, provocando dilatação e inflamação desses vasos.
Como você pode ver, o mecanismo que explica a dilatação de vasos sanguíneos na enxaqueca é completamente anormal e diferente da dilatação perfeitamente fisiológica dos mesmos vasos sanguíneos causada pelo calor.
Ou seja, o fato dos vasos estarem dilatados por causa do calor nada tem a ver com o processo de dilatação dos vasos sanguíneos da enxaqueca.
O que pode acontecer é o calor desencadear enxaqueca, por vários mecanismos como os que você já leu anteriormente, aqui. E a enxaqueca, por si, dilatar vasos sanguíneos através da liberação anormal de CGRP.
Portanto, se está calor e você está com enxaqueca, vai ter o componente normal e esperado de dilatação dos vasos sanguíneos, mais o componente anormal de dilatação causado pela enxaqueca. Não seria de se admirar se, nessa situação, sua dor fosse mais latejante.
Luz do Verão
O hemisfério terrestre, durante o verão, se encontra mais próximo ao Sol que aquele onde é inverno. Isso implica em maior e mais longa incidência direta dos raios solares onde é verão. Em outras palavras, dias mais longos, mais quentes e mais iluminados.
De um lado, sabe-se que que a sensibilidade à luz (nome técnico: fotofobia) é um sintoma bastante comum da enxaqueca. Esse sintoma pode ocorrer em quem sofre da doença, até mesmo quando a dor de cabeça não está presente.
Com o aumento da exposição à luz e ar livre, pode ocorrer um aumento da percepção desse incômodo. E, conforme já vimos no início deste artigo, o aumento de qualquer incômodo pode predispor a crises de enxaqueca.
Isso não significa, de forma nenhuma, que o sofredor de enxaqueca deveria se expor o quanto menos à luz. Muito pelo contrário.
O que acontece é que existe muita sutileza na recomendação de se expor à luz, como por exemplo, quando se vai à praia. Trata-se de um processo de aclimatização, que pode resultar extremamente benéfico para melhorar o quadro geral de enxaqueca. Esse benefício é melhor explicado num artigo em separado, que você faria muito bem em ler com atenção.
Como ter menos enxaqueca no calor
- Prever é Prevenir: Comece a se cuidar antes do calor chegar. Sono, alimentação, gestão do movimento e das emoções, conforme meu livro e vários artigos que você pode ler aqui mesmo neste site.
- Atenção para seu estilo de vida. Lembre-se que o calor predispõe e tente minimizar sua exposição a outros fatores predisponentes.
- Aclimatize-se aos poucos, para que a luz e calor se tornem o menos desconfortável possível. Comece reservando nem que seja 5 minutos para ficar exposto, pouco a pouco, cedo de manhã, ao sol e calor.
- Minimize o desconforto: uma chuveirada, um guarda-sol, um banho de mar ou piscina, uma bacia de água gelada nos pés, vale qualquer coisa. Use sua criatividade. Menos beber álcool e refrigerante.
- Hidratar para não pirar! Beba só água. O álcool desidrata as células e os refrigerantes contêm sal, que sabidamente desidrata. Água de coco também é aceitável, desde que direto do próprio coco.
- Petiscos são riscos. O que a gente mais vê nos bares e mesas de verão são frituras e gostosuras mal preparadas. Aproveite a boa companhia, mas, para seu bem, escolha cuidadosamente o que vai comer. Leia os livros da minha esposa, a culinarista Pat Feldman. Sei que vai gostar.
- Cuidado com o horário dos exercícios. O melhor é muito cedo pela manhã.
- Durma cedo para acordar cedo. Não deixe de ir a um ou outro evento, mas escolha bem os eventos que realmente valem a pena te fazer dormir mais tarde. Ou seja, não precisa passar a virada de réveillon dormindo.
- Procure um bom médico para fazer um tratamento preventivo. Existem tratamentos eficazes, acredite. Farmacológicos e não farmacológicos. O melhor médico é aquele que foi bem indicado por outras pessoas que tiveram bom resultado.
- Tenha à mão o(s) remédio(s) prescrito(s) pelo seu médico para o caso da crise chegar, mesmo com todos esses cuidados.
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