Qual a causa da enxaqueca?
A causa da enxaqueca ainda não foi completamente desvendada pela ciência. Sabe-se que ocorre um desequilíbrio bioquímico em certas localidades do cérebro, envolvendo substâncias chamadas neurotransmissores, neuropeptídeos e hormônios. Um desses principais neurotransmissores recebe o nome de serotonina.
Seria cômico se não fosse trágico: A pessoa com enxaqueca, muitas vezes em sua busca pelo alívio, já teve seus dentes retirados, seus olhos refratados, seu septo nasal endireitado (isso, tudo bem, para quem queria ganhar um nariz novo!), suas adenóides removidas, sua mandíbula consertada, sua mente analisada, seu útero removido, seu pescoço tracionado, seus seios da face drenados, seu sistema imunológico dessensibilizado, suas vértebras manipuladas, seus hormônios regulados e, até onde eu sei, seus maus espíritos exorcizados… e ela continua a ter dores de cabeça!
A pessoa é submetida a diversos exames, encaminhada a inúmeros especialistas, submetida a incansáveis investigações – sem nenhum resultado anormal. Por fim, é descartada e desprezada como um “doente ilegítimo”, um hipocondríaco, vítima do mau diagnóstico, da má compreensão e do desprezo: –”Você não tem nada!!!”
Enxaqueca não é frescura
Para muitos profissionais de saúde, infelizmente, a enxaqueca ainda é doença de hipocondríaco, frescura, piripaque, vontade de chamar atenção. Mas a causa da enxaqueca é muito sutil para ser detectada pelos exames mais modernos que dispomos.
A causa da enxaqueca é um desequilíbrio neuroquímico.
Neurotransmissores e neuropeptídeos como a serotonina são substâncias que o cérebro fabrica, cuja função é transmitir informações entre neurônios. Daí o nome neurotransmissores. Os neurotransmissores são responsáveis, entre outras coisas, por nossas sensações, inclusive a de dor. São responsáveis até pelo nosso humor e comportamento. É por isso que a enxaqueca anda de mãos dadas com depressão, ansiedade e pânico. Todas essas doenças compartilham o mesmo o mesmo tipo de desequilíbrio bioquímico cerebral.
As manifestações desse desequilíbrio neuroquímico podem diferir umas das outras. Assim, enquanto em algumas pessoas ele se manifesta como enxaqueca, em outras, se manifesta como depressão. Ou ansiedade. Ou pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fibromialgia etc. Cada manifestação resulta num diagnóstico diferente. A maneira como esse desequilíbrio irá se manifestar depende de fatores genéticos, ambientais e comportamentais.
No caso da enxaqueca, uma vez instalado esse desequilíbrio, o indivíduo fica vulnerável a apresentar a dor de cabeça e os demais sintomas, mediante uma série infindável de gatilhos (fatores desencadeantes), os quais são erradamente confundidos com causas.
Uma verdadeira linha de produção de exames
Por que a pessoa que sofre de enxaqueca faz todos os exames possíveis, e todos eles insistem em resultar normais? Até mesmo ressonância magnética da cabeça, angiorressonância, doppler transcraniano, eletroencefalograma, líquor, exames de sangue etc. E no caso de aparecer alguma anormalidade num exame, ela não é a causa da enxaqueca, mas um mero achado.
Algum exame feito pela pessoa acusou uma anormalidade e, como resultado, o paciente e seu médico vão sair na busca eterna da solução da enxaqueca através do tratamento da anormalidade acusada no exame – um desvio de coluna, uma sinusite, um problema na arcada dentária, um teste de alergia alterado, e assim por diante. A pessoa acaba sendo submetida a uma verdadeira “linha de produção” de exames e tratamentos, todos realizados por profissionais médicos muito bem-intencionados procurando por aquilo que pensam ser a causa da enxaqueca. Assim, o otorrinolaringologista vê a causa como uma sinusite; o alergologista vê a causa como alergia; o ortopedista vê como um problema de coluna, e assim por diante.
Porém, a enxaqueca nada tem a ver com os distúrbios e as doenças desses órgãos. Pense um pouco: Quanta gente possui desvio de coluna, por exemplo, e não tem dores de cabeça! Se o desvio fosse causa da enxaqueca, então todas as pessoas que tivessem o tal desvio deveriam ter os sintomas da tal enxaqueca. E isso não ocorre!
O fato é que a enxaqueca é uma doença muito comum. Estima-se que 1/5 da população sofra dela. E o enxaquecoso pode estar apresentando, ao mesmo tempo, por mera coincidência, algum outro problema. Esse problema pode ou não ser grave. Na maioria das vezes, não é.
Pense só: Você pode estar, por exemplo, com o maior resfriado, comer alguma coisa estragada e ter uma enorme dor de barriga. Será que essa dor de barriga tem alguma coisa a ver com seu resfriado? Aposto que não!
Porém, quando o problema descoberto, por acaso e coincidência, é grave, pode acabar, muitas vezes, gerando nova – e maior – confusão.
Nenhum exame detecta a causa da enxaqueca
O motivo é que não existe exame sofisticado o suficiente para detectar e comprovar esse desequilíbrio causador da enxaqueca. De um lado, sabemos que na enxaqueca existe um desequilíbrio na química do cérebro. Mas de outro, tudo o que sabemos e falamos sobre a exata e mais profunda natureza desse desequilíbrio são hipóteses. Tanto é assim, que a enxaqueca até hoje é oficialmente definida pelos sintomas, e não pelas causas.
O livro Enxaqueca – Só Tem Quem Quer possui uma seção destinada inteiramente à explicação dos possíveis mecanismos da enxaqueca. Se você tem enxaqueca, precisa ler esse livro.
A localização da dor pode variar de crise para crise; raramente dói sempre no mesmo lugar. A dor pode ocorrer em qualquer lugar da cabeça, inclusive na região dos dentes, seios da face e nuca. Isso pode dar origem a confusões com problemas dentários, de ATM, de sinusite e de coluna.
Os demais sintomas da enxaqueca compreendem náuseas (enjôo), vômitos, aversão à claridade, ao barulho, aos cheiros, hipersensibilidade do couro cabeludo, visão embaçada, irritabilidade, flutuações do humor, ansiedade, depressão (mesmo fora das crises) e lacrimejamento. Não é necessário apresentar todos estes sintomas para ter enxaqueca. Normalmente apresenta alguns deles, em graus variados. Leia mais sobre sintomas da enxaqueca.
Crise de enxaqueca pode durar de horas a dias
A duração de uma crise de enxaqueca é, tipicamente, de 3 horas a 3 dias, seguida de um período variável sem nenhuma dor. Pode ser precedida por uma alteração do humor (euforia em alguns casos, depressão e irritabilidade em outros) e do apetite (vontade de comer doces, ou então perda de apetite), visão embaçada, visão dupla, escurecimento da visão (cegueira parcial) de um ou ambos os olhos, e sensação de estar vendo pontos brilhantes, como se fossem vagalumes. Entre outros sintomas estão incluidos diminuição da força muscular de um lado do corpo, formigamentos, tonturas, diarréia, podendo também ocorrer as manifestações visuais já descritas.
A frequência da dor é muito variável, podendo ser desde uma vez na vida, até todos os dias, e até várias vezes ao dia, no caso da cefaléia em salvas. (A cefaleia em salvas é uma variante rara da enxaqueca, que acomete muito mais os homens. Para saber mais sobre cefaleia em salvas, leia este artigo.)
A dor de cabeça da crise de enxaqueca pode ser muito forte, a ponto de impedir o indivíduo de exercer qualque atividade, obrigando-o a ficar deitado, num quarto escuro, em silêncio, imóvel, durante horas ou dias. O paciente torna-se muito irritável, preferindo ser deixado sozinho.
Boa parte das crises de enxaqueca termina com o sono, ou então quando a pessoa vomita (principalmente as crianças). Ao fim de uma crise, o paciente sente-se como que de ressaca, apresentando, por mais de um dia, tolerância limitada para atividade física e mental.
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