Portadoras de Enxaqueca na Gravidez Insatisfeitas com Paracetamol
A enxaqueca costuma melhorar muito durante a gravidez. Porém, existe uma pequena parcela de grávidas para quem a enxaqueca não melhora, ou até piora. Além disso, mesmo melhorando, nada impede que surja uma ou outra crise na gravidez, ainda que menos frequente. É fato que o paracetamol tem sido, há décadas, universalmente indicado pelos médicos para suas pacientes grávidas com enxaqueca.
No ano 2013, ginecologistas e obstetras do mundo inteiro se reuniram em Nova Orleans, E.U.A., para um congresso. Era o 61° Congresso Americano de Ginecologia e Obstetrícia. É claro que um dos temas discutidos foi o tratamento da crise de enxaqueca na gravidez. (Atenção: Se você tem dúvida sobre o que é enxaqueca, clique aqui agora mesmo!)
O que ficou evidente foi a insatisfação geral com a falta de eficácia do paracetamol para enxaqueca na gravidez. Pelo menos na maioria dos casos.
O paracetamol é um analgésico tido, falsamente, como o mais “seguro” para enxaqueca na gravidez. Acontece que é tambem um dos menos potentes e raramente alivia sozinho a crise de enxaqueca. Naquele congresso, os especialistas debateram, junto com clínicos-gerais e médicos atuantes na área da dor, o que poderiam passar a recomendar, de mais eficaz, para a maioria das grávidas.
O melhor seria não precisar tomar remédio
Adivinhe qual foi a primeira e principal recomendação do que fazer para não ter enxaqueca na gravidez?
Vou dar uma pista: é algo que já venho utilizando, com muito sucesso, faz tempo. E é o tema principal que ensino no meu livro.
Se você pensou em mudanças de hábitos e estilo de vida, adivinhou!
Essas mudanças podem contribuir, e muito, para reduzir a frequência das crises de enxaqueca e, por tanto, simplesmente não precisar tomar remédio.
Posso testemunhar, por experiência, que mudanças de hábitos e estilo de vida contribuem para diminuir crises de enxaqueca e, portanto, a necessidade de remédios farmacêuticos, na gravidez e fora dela. Quer aprender a implementar essas mudanças? Então recomendo a você, enfaticamente, a leitura do meu livro.
Se paracetamol não é tão eficaz, então qual seria?
Mas voltando ao congresso. A conclusão foi que, ao menos na teoria, os remédios da classe das triptanas, caso fossem algum dia liberados a partir de estudos clínicos comprovando sua segurança para uso na gravidez, deveriam passar a ser os medicamentos de eleição nos casos de crise de enxaqueca neste período.
A sumatriptana foi o primeiro dos remédios da família das triptanas a ser lançado no mundo, no início da década de 1990. Desde então, várias triptanas, em várias dosagens e vias de administração, foram lançadas no mercado.
Principais nomes genéricos e comerciais (em itálico) das triptanas:
- Sumatriptana – Sumax, Imigran
- Rizatriptana – Maxalt
- Zolmitriptana – Zomig
- Naratriptana – Naramig, Naratrin
É possível que outras marcas comerciais existam para uma ou mais triptanas da lista acima.
A lista acima é de triptanas atualmente disponíveis em território brasileiro. Existem mais triptanos no mundo, porém não no Brasil no momento.
Não há estudos comprovando que triptanas não prejudicam o feto.
Até hoje não foi possível descartar a possibilidade de que triptanas, usadas na gravidez, possam causar algum prejuízo ao feto.
Por outro lado, até hoje nunca foi confirmado nenhum prejuízo ao feto por conta do uso de triptanas na gravidez.
Em outras palavras, embora até hoje nenhum problema tenha sido detectado, o risco ainda não foi descartado.
Não se sabe se pode vir a ser descoberto algum problema, conforme progridem os estudos e passa o tempo.
Mas a conclusão teórica daqueles especialistas foi que, até o momento, o uso de triptanas para enxaqueca na gravidez pode ser considerado “seguro”. Aliás, em comparação com as possíveis alternativas farmacológicas (inclusive o paracetamol), as triptanas poderiam ser mais seguras e mais eficazes.
Portanto, naquele congresso a conclusão foi: é uma questão de bom senso prescrever triptanas para crises de enxaqueca na gravidez.
Posso até imaginar você concluindo que tudo bem tomar triptanas na gravidez. Mas antes de pular para qualquer conclusão errada, continue lendo até o fim. Não pare.
Prescrever é diferente de se automedicar!
Isso não quer dizer, de modo algum, que qualquer mulher grávida estaria liberada para usar triptanas. Nos Estados Unidos, essas drogas não são vendidas sem prescrição médica. Lá, cabe ao médico avaliar cada caso antes de indicar ou contraindicar a prescrição.
A realidade do Brasil, infelizmente, é diferente. Remédios de tarja vermelha, como as triptanas, que deveriam ser vendidos apenas sob prescrição médica, são vendidos livremente.
Por isso é importante observar e ressaltar que ninguém jamais deveria se automedicar. Seja com triptanas, seja com qualquer outro medicamento, sem recomendação e prescrição médica.
Portanto se você está grávida e sofrendo com uma crise de enxaqueca na gravidez, não caia na tentação de se automedicar. De ir à primeira farmácia para comprar e tomar a primeira triptana que aparecer na sua frente. Nesse momento a segurança do tratamento acaba e você fica exposta a uma série de potenciais complicações. Para não falar do feto que está na sua barriga.
Remédio sem indicação médica é inseguro.
Parece contrasenso? Claro que não! Quer um exemplo? Vamos lá.
Qualquer dor de cabeça durante a gravidez pode ser sintoma de uma doença chamada pré eclâmpsia. A pré eclâmpsia pode ser fatal tanto para a mãe quanto para o feto. E em princípo basta estar grávida para poder ter pré eclâmpsia. Nenhuma grávida está livre dessa possibilidade. E no momento em que surge a dor de cabeça da pré eclâmpsia, não há tempo a perder. Cada minuto é precioso e pode significar a diferença entre a vida e a morte.
Estou exagerando? Pesquise “pré eclâmpsia” no Google e tire suas próprias conclusões.
E você ainda assim pensaria em se arriscar a automendicar sua dor de cabeça que supõe ser mais uma crise de enxaqueca na gravidez, com triptanas, paracetamol ou seja lá o que for?
E se for pré-eclâmpsia e não enxaqueca? E se for enxaqueca, porém que está sendo desencadeada por uma pré-eclâmpsia? Você tem médico para isso!
Há contraindicações? Cabe ao seu médico descobrir.
Você também pode ser portadora de problemas que contraindicam o uso de triptanas! Contraindicação é um termo que designa casos em que não é recomendado (indicado) usar um determinado remédio.
Contraindicação costuma ser confundida com o termo efeitos colaterais. Na verdade, o termo efeitos colaterais designa os efeitos indesejáveis que um determinado remédio pode exercer em qualquer pessoa.
É só comparar os dois parágrafos anteriores para entender a diferença entre contraindicação e efeitos colaterais.
Um exemplo de contraindicação para o uso de triptanas são certos problemas cardíacos. Há outras. Se você possui ou não contraindicação, é algo que seu médico poderá descobrir.
Conclusão: siga a recomendação do seu médico
As triptanas podem até ter sido consideradas, pelos médicos naquele congresso, seguras e eficazes em geral, para a maioria dos casos de enxaqueca na gravidez. Mas somente um médico – o seu médico! – poderá dizer, durante a consulta médica, se você se enquadra ou não nessa maioria.
Aliás, fica aqui mais uma recomendação: não confunda este artigo que você acaba de ler com o seu médico. Outra coisa: nem pense em me enviar um email descrevendo seu caso. Para sua própria segurança, você deve fazer isso apenas com seu médico de confiança, durante consulta presencial. Use tudo aquilo que você lê na internet, inclusive neste meu site, como mera fonte de informação, e jamais confunda internet com consultório médico.
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