Enxaqueca e Alimentação – Relação Simples Porém Complexa
Os conhecimentos adquiridos por diversas áreas da ciência nas últimas décadas permitem explicar a profunda influência na enxaqueca exercida pelos alimentos que ingerimos no dia-a-dia. Compreender a alimentação no tocante aos seus aspectos pró e antienxaqueca é um grande passo, um poderoso instrumento, no sentido de controlar, definitivamente, este mal. A maior farmácia do mundo está na nossa própria cozinha, e isso vale para a enxaqueca.
Mas infelizmente, os avanços científicos das últimas décadas no tocante à relação entre alimentação e saúde não repercutiu no meio médico, onde ciência foi se tornando domínio exclusivo das indústrias farmacêutica e alimentícia. As pessoas foram aprendendo que a cura das doenças residia na “química”. Ao mesmo tempo, foi se consolidando a crença de que o ato de cozinhar era coisa de gente desocupada, desatualizada, submissa. Os padrões de alimentação foram mudando. Para que preparar os alimentos se podemos comprá-los prontos? O consumo de alimentos industrializados aumentou vertiginosamente. Ao mesmo tempo, autoridades norte-americanas de saúde criaram a pirâmide alimentar, “cientificamente embasada” de acordo com um tipo de “ciência” que atende unicamente a interesses econômicos, colocando na base dessa pirâmide os cereais (basicamente pão, macarrão e outros derivados processados industrialmente), e transferindo cada vez mais para o topo as carnes e gordura de origem animal, cada vez mais demonizadas como “causadoras de doenças”. Só que desde a adoção destes novos parâmetros alimentares pelo mundo, doenças como a enxaqueca, dores crônicas de vários tipos, depressão e ansiedade (para não falar em doenças cardiovasculares e câncer) aumentaram em paralelo, ao invés de diminuir.
Restaurantes fast-food proliferam e reforçam a ideia de que comer é perda de tempo e, portanto, deve ser feito o mais rapidamente possível. “Não tenho tempo para comer, preciso trabalhar, estudar, produzir”. Interesses de mercado influenciam dramaticamente a alimentação. O que mais se vende são produtos ricos em carboidratos refinados, sejam eles preparados com açúcar, farinha ou amido.
Antigamente, o café era moído na padaria, você levava para casa e preparava no coador de pano. Atualmente, nunca foi tão fácil, rápido e barato tomar um cafezinho. Ou um refrigerante. Ou um suco (“de caixinha” ou “garrafinha”, é claro). “Água? O que é isso? Se eu tomar, é capaz de eu passar mal!!! É isso que você quer que eu beba no meu dia-a-dia??? Meu organismo não aguenta!” Essa trágica inversão de propriedades pode parecer piada, mas é assim que a maioria das pessoas que me procuram se referem a esse líquido tão precioso, tão saudável… e tão menosprezado.
Nós somos o que comemos. Essa frase nunca foi tão verdadeira. Você come, por exemplo, um frango. O frango, hoje, deixou de ser um alimento natural, para se transformar numa mistura de gorduras e hormônios totalmente alterados. Afinal, foi à base de doses cavalares de remédios, fatores de crescimento, antibióticos e suplementos artificiais que esse frango, criado em cativeiro em condições de dar inveja a campos de concentração, foi capaz de passar de um ovo a dois quilos de carne em pouco menos de um mês!
Nós fazemos parte de um sistema chamado cadeia alimentar. Pense no peixinho que é engolido pelo peixe maior, que por sua vez é engolido pelo peixão. No final, ao comer um frango, você está comendo aquilo que ele comeu na vida! Ao contrário do que você e seu médico sempre acreditaram, o frango comum, que se encontra por aí à venda, é um dos alimentos menos saudáveis que existem! Se os hormônios dele estão alterados pelas condições em que foram confinados e alimentados, ao ingeri-lo, os seus hormônios também se alteram. Sabemos que o desequilíbrio hormonal é um dos fatores determinantes da enxaqueca. Também sabemos que as gorduras são parte essencial dos neurônios. Será tão difícil imaginar que a ingestão de gorduras alteradas resulta em neurônios e hormônios alterados?
Se, por um lado, os conhecimentos científicos na área de alimentação estão progredindo, por outro, a difusão destes conhecimentos precisa acompanhar de perto esse progresso. Pensando assim, desenvolvi, ao longo dos anos, e publiquei no meu LIVRO, um programa de desintoxicação com duração de 3 meses seguido de um programa de manutenção de alimentação saudável. Aliás, alimentação saudável não é sinônimo de castigo para quem está doente! Muito pelo contrário! Você pode ver no site da culinarista Pat Feldman, minha esposa, inúmeros exemplos de receitas culinárias surpreendentes, deliciosas e rápidas, com ingredientes caseiros que têm o poder de restaurar e manter nossa saúde. Após os 3 primeiros meses, com o paladar reeducado pela desintoxicação inicial, você estará em condições de explorar novas receitas, como as que estão no site da Pat, e criar uma nova zona de conforto com relação à comida. A Pat me conta que a maior alegria dela é quando as pessoas para quem ela dá aulas de culinária exclamam, espantadas: – “Eu não imaginava que seria tão fácil e gostoso”. Tão deliciosas que as pessoas se animam a preparar estas receitas, colocá-las na rotina da casa e prepará-las para seus familiares, amigos e entes queridos. Aqui na minha casa mesmo, quando recebemos amigos, não fazemos nada diferente do que é saudável. Nossos convidados, ao contrário de se incomodar, adoram o sabor, a consistência e o aspecto da comida – essa mesma alimentação que você deveria implementar após os 3 meses iniciais de desintoxicação.
Video Sobre a Dieta Feldman Antienxaqueca
Muitas pessoas que aplicaram, na prática, as informações do meu livro no que diz respeito à alimentação, relatam que estão melhorando como nunca. O mais impressionante é que, junto com a melhora da enxaqueca, melhoram também os distúrbios de humor, sintomas menstruais como TPM, excesso de peso, e retenção de líquido que podem estar presentes.
Esse tipo de melhora abrangente, de dentro para fora, comprova de que a doença não é uma entidade desvinculada do resto do organismo. Hipócrates, o pai da medicina, já dizia há quase 2.500 anos: “Faça do alimento seu remédio e faça do remédio seu alimento”.
Se você tem enxaqueca e não leu (e colocou em prática) as explicações e recomendações do meu livro, não sabe o que está perdendo. Estas recomendações dizem respeito à alimentação, mas não param por aí. Abordam uma série de mudanças de estilo de vida que precisam ser implementadas em conjunto com a alimentação, em quem tem enxaqueca.
Se você tem enxaqueca, procure alimentar-se assim:
- Evite o consumo diário de cafeína (café, refrigerantes, entre outros);
- Beba água pura no lugar de quaisquer outras bebidas (inclusive sucos e refrigerantes);
- Não pule refeições, procure comer sempre no mesmo horário;
- Exclua o leite de seu dia-a-dia; mas
- Consuma derivados fermentados do leite, como iogurtes naturais, queijos e leites fermentados (como o kefir);
- Não coma doces rotineiramente;
- Evite o consumo quotidiano de pães;
- Evite o consumo frequente de massas;
- Evite o consumo frequente de chocolate;
- Evite temperos artificiais como glutamato monossódico (um “realçador de sabor” comumente utilizado em restaurantes, acrescido à maioria dos alimentos e até bebidas industrializados, “cubinhos” de “carne”, “frango” etc.)
- Evite carne de frango, ela pode conter altos teores de antibióticos, hormônios artificiais entre outros aditivos;
- Evite o consumo de produtos industrializados. eles podem conter substâncias desencadeantes;
- Procure consumir comida de verdade como carnes, ovos, e peixes de animais que foram criados soltos (e não confinados em cativeiro à base de ração industrializada), frutas, verduras e legumes, de preferência de cultivo orgânico (agricultura sustentável, sem uso de agroTÓXICOS, que também acabam sendo tóxicos para você).
Olhe bem para a lista acima e verá que ela se resume à exclusão de “produtos alimentícios” industrializados ou originalmente naturais porém que foram alterados pelo processamento industrial, como é sempre o caso do frango e leite (leia este artigo sobre leite versus iogurte para maiores esclarecimentos), e à recomendação de uma alimentação à base de comida de verdade: carne e ovos de animais criados soltos à base de pecuária sustentável, peixes (pescados e não cultivados em “fazendas de peixes” que poluem rios e mares), queijos, iogurtes (sempre naturais, sem conservantes ou aditivos), sal, pimenta, ervas de todos os tipos, alho, cebola, noz moscada, canela, cravo, curry, enfim, todos e quaisquer temperos naturais, castanhas, arroz, feijão, saladas, todas as verduras, legumes, frutas frescas, cogumelos, manteiga, creme de leite, azeite de oliva extravirgem, enfim, tudo que pode ser criado e cultivado de forma natural e sustentável para o planeta.
Ninguém precisa comer “produtos alimentícios” industrializados no seu dia-a-dia sob o pretexto desses produtos serem necessários para manter ou melhorar a saúde. Portanto, por favor não me pergunte nos comentários se é seguro para grávidas ou pessoas com esta ou aquela doença, comer comida de verdade e assim evitar “produtos alimentícios” recheados de aditivos químicos artificiais, conservantes, agrotóxicos, aromatizantes, realçadores de sabor, estabilizantes, emulsificantes, flarorizantes etc. Um exemplo clamoroso é o diabético que, ao invés de reeducar seu paladar para não depender do doce e do açúcar, prefere se entupir de adoçantes artificiais que só trazem prejuízo enorme para a saúde. É importante também tomar cuidado com produtos industrializados que se dizem saudáveis ou cujos rótulos enumeram toda uma série de vitaminas e propriedades. Comida de verdade não precisa dizer que é saudável – ela simplesmente é. Aliás, comida de verdade não precisa de rótulos e não vem com rótulos.
A Relação Entre Enxaqueca e Alimentação Não É Simplista
Este artigo foi escrito para explicar, da maneira mais lógica possível, a verdadeira relação entre alimentação e enxaqueca como eu a vejo, mas não confunda essa explicação com a Dieta Feldman Antienxaqueca. A dieta que criei não é simplista, não se resume a essa lista e nem apenas à alimentação (portanto não é unicamente uma dieta alimentar, mas sim uma dieta de estilo de vida) e envolve necessariamente uma compreensão profunda de como eu vejo a enxaqueca, a gestão da alimentação, do sono, das emoções e do movimento (atividade física). Este artigo seria totalmente insuficiente para explicar minha dieta de maneira realista e adequada. Para essa explicação seria necessário um livro de 300 páginas. Felizmente eu escrevi esse livro e você pode comprá-lo a fim de compreender e se beneficiar desse conhecimento vital. Aliás, quaisquer detalhes e perguntas que você possa ter (e com certeza vai ter) com relação, meramente, à lista acima – e, de fato, sobre toda a conexão entre enxaqueca e alimentação exposta neste artigo -, você poderá esclarecer no meu livro.
Na lista acima, você poderá se surpreender, por exemplo, com uma ou outra comida de verdade que até poderia ser ingerida, se essa comida em particular não desencadeasse – em você – uma crise de enxaqueca. Por exemplo: tem gente que, se comer fruta cítrica, ou castanha, ou alho, cebola, salsinha, queijo e assim por diante – tem uma crise de enxaqueca desencadeada por esse item em particular. Isso significa que esse ingrediente, para aquele indivíduo e naquele momento de sua vida, desencadeia crises de enxaqueca. Isso não significa, em absoluto, que para a grande maioria das outras pessoas que sofrem de enxaqueca, esse mesmo item da alimentação não deveria ser consumido. Mais uma vez, recomendo que leia meu livro para uma explicação profunda neste sentido, e leia também este meu artigo sobre a eterna confusão entre causas e desencadeantes.
Médicos Desprezam Relação entre Alimentação e Enxaqueca
Infelizmente, até os dias de hoje, apesar de todos os avanços e informações que a ciência disponibiliza, médicos ditos “especialistas” continuam a não conhecer, e portanto não acreditar, na relação entre alimentação e enxaqueca. Lembro-me de certa ocasião na qual dei entrevista para um programa de televisão, onde falei especificamente sobre a relação entre alimentação e enxaqueca, citando ingredientes e até exemplos práticos de receitas culinárias que poderiam influenciar positivamente a enxaqueca e seus sintomas. A gravação da entrevista, com duração de cerca de 3 minutos, foi veiculada durante um programa mais longo, no qual outro médico, sem nenhuma relação comigo, se encontrava no estúdio da emissora, ao vivo, falando sobre os mais diversos aspectos da enxaqueca. Após assistir a inserção da minha entrevista, o comentário do especialista foi algo do tipo: “Isso tudo é a maior besteira, bobagem. Não existe relação entre alimentação e enxaqueca no sentido de que mudar a alimentação possa resultar em melhora da enxaqueca, visto que a enxaqueca é determinada geneticamente.”
Claro que se eu também estivesse no estúdio e tivesse tido oportunidade de responder, comentaria que é incorreto, diante do conhecimento atual, pensar num “determinismo genético”, e que seria mais correto considerar a influência do ambiente e comportamento sobre nossas predisposições genéticas, com isso. Leia mais e assista um vídeo meu sobre a relação entre enxaqueca, genética e hereditariedade clicando aqui.
Ou então, verá comentários dizendo que “para enxaqueca somente devem ser indicados remédios” e nada mais, como podemos ler neste artigo, que certamente, e infelizmente, até os dias de hoje, representa a opinião de muitos médicos.
Felizmente, se para esses médicos nenhum tipo de alimentação pode ajudar o tratamento da enxaqueca, então por conseguinte nenhum tipo de alimentação pode atrapalhar. De modo que nada impede, logicamente falando, até mesmo para esses médicos, que você tome a iniciativa de mudar e melhorar sua alimentação, ao mesmo tempo em que seu médico prossegue com a estratégia de tratamento que ele conhece e domina. As ações sugeridas no meu livro, tanto sobre alimentação e enxaqueca, quanto sobre sono, gestão das emoções e movimento, não conflitam, mas complementam, a intervenção médica, qualquer que ela seja. Claro que o melhor tipo de tratamento compreende uma ação conjunta entre o seu médico e você, na qual um complementa a ação do outro, ou seja, o médico cuida de você enquanto você se cuida. Leia aqui minha resposta para quem me pede recomendação de médicos em sua cidade ou região.
Alimentação e Enxaqueca – Considerações Finais
Minha motivação para escrever este artigo nasceu da espantosa superficialidade e lugar-comum da maneira com que é tratada a relação entre alimentação e enxaqueca, face à pesquisa do tópico “alimentação e enxaqueca” na internet. A impressão que dá é que qualquer um que queira falar sobre o assunto praticamente copia o texto anterior, sem pensar muito. O conteúdo é muito similar, muito superficial e, arrisco dizer até sensacionalista em alguns momentos, pois fazem chamadas incríveis a esses artigos, do tipo “o que você deve comer para não ter enxaqueca”, porém não têm nada de novo ou diferente a oferecer, senão uma simples (e simplista) lista de desencadeantes. Precisamos ficar de olho no nível das informações sobre alimentação e enxaqueca na internet, e o presente artigo representa um esforço para que esse nível melhore.
Clique aqui para ler ainda mais a respeito do tema Alimentação.
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