Cefaleia Rebote é Provocada Por Remédios e Desconhecimento
Cefaleia rebote é o nome que se dá à dor de cabeça diária advinda da seguinte situação: Você toma alguma coisa para melhorar sua dor de cabeça, porém assim que passa o efeito daquilo que você tomou, a dor de cabeça volta “de rebote”. Todos os dias, ou quase.
A palavra rebote, utilizada no termo cefaleia rebote, é uma metáfora com a bola que salta pela segunda vez (rebote). Do mesmo jeito que uma bola com a qual brincamos volta a saltar quando a jogamos, a cabeça volta a doer quando passa o efeito daquilo que inicialmente a aliviou. Daí a dor de cabeça diária. Daí o termo cefaleia rebote.
Café e Cefaleia Rebote
Tem gente que se não tomar uma xícara de café que seja, todos os dias, com certeza tem dor de cabeça naquele dia que, por um motivo ou outro, não tomou o café. Mais que dor de cabeça, a falta daquele único café todos os dias pode acarretar em tremenda sensação de cansaço (passa o dia inteiro parecendo um zumbi que não acordou direito), irritabilidade, mau humor, agressividade, falta de energia.
O mais interessante é que a maioria dessas pessoas acha perfeitamente normal essa situação de ter de tomar café todos os dias. Chegando a ponto de atribuir ao café um poder de proteção contra a dor de cabeça e demais sintomas, alegando que se não tomar café vem a dor de cabeça. E recusando-se terminantemente a se dar conta de que se tornaram dependentes do café, e que isso não pode ser bom, de maneira nenhuma.
Leia mais sobre a influência do café na piora da dor de cabeça clicando aqui.
Por favor leia o quanto antes – de preferência agora mesmo, e depois você volta aqui – minha explicação sobre porque analgésicos com cafeína estão por trás de muitas dores de cabeça diárias. Basta clicar aqui para ler.
Analgésicos e Cefaleia Rebote
Com outras pessoas, o problema é o analgésico: elas precisam tomar pelo menos um comprimido de analgésico todos os dias, pois caso contrário já sabem que vão ter crise forte de dor de cabeça, a qual então exigirá quantidade muito maior de analgésicos – e mesmo assim poderá não melhorar e necessitar de aplicação de uma série de medicamentos injetáveis no pronto-socorro; acarretando em perda de trabalho, cancelamento de atividades sociais, prejuízo do convívio em família, muita dor e destruição da qualidade de vida.
O mais interessante é que a maioria dessas pessoas acha – ou já achou, em algum momento da vida – que tomar “um comprimidinho” de analgésico todos os dias é a coisa mais normal do mundo. Não dá muita bola para esta situação e continua a “administrar” as dores de cabeça com aquele analgésico de uso diário, às vezes por anos a fio. Aliás a dor de cabeça pode nem sequer incomodar, desde que continue a ser tomado religiosamente todos os dias o comprimido de analgésico.
Fica então a pergunta:
Quais são as consequências desta ingestão desordenada de cafeína e/ou analgésicos?
Uma das possíveis consequências é justamente a cefaleia rebote.
Cefaleia Rebote Por Diminuição do Efeito do Remédio
Todos os remédios, sem exceção, possuem dois grandes problemas:
- Seu efeito vai diminuindo com o tempo; e
- Eles possuem efeitos colaterais.
Qualquer tratamento médico bem feito precisa levar esses problemas em conta, e com os analgésicos não é diferente. Conforme vão sendo tomados cada vez mais frequentemente, ainda que em pequenas quantidades por vez, vão sofrendo uma diminuição progressiva do seu efeito. O indivíduo que antes melhorava com um comprimido, agora precisa tomar dois.
O tempo que dura essa melhora também vai diminuindo cada vez mais, até que o impensável acontece: esse indivíduo passa a ter dores cada vez mais frequentes, necessitando de doses cada vez maiores de analgésicos. Esta é a cefaleia rebote: toma-se o analgésico, alivia-se a dor, passa o efeito do remédio e a dor volta de rebote. Daí “cefaleia rebote”. Em tempo: cefaleia é o termo médico em português (“mediquês”) para se referir simplesmente à dor de cabeça.
Como os analgésicos não foram criados com a intenção de serem ingeridos todos os dias, esse uso diário (ou quase diário) acaba gerando uma série de efeitos colaterais, desde gastrites, passando por sangramentos no tubo digestivo, úlceras, insuficiência renal e até certos tipos de câncer. Além, é claro, da cefaleia rebote.
O mais trágico é que esses analgésicos, chamados de “comuns”, podem ser obtidos livremente em qualquer farmácia.
Na bula de alguns, lê-se absurdos do tipo “não se deve exceder 6 comprimidos por semana”. Ora, essa quantidade representa, praticamente, a semana inteira!! É praticamente um convite à cefaleia rebote!
Absurdos como este constituem mais uma prova de que a enxaqueca é um problema de saúde pública menosprezado, e que os custos e sofrimentos advindos do mau uso de analgésicos são imensos. Certamente, a falta de informação nessa área é um fator determinante no aumento desmesurado do custo-saúde do nosso país.
Cefaleia Rebote ou Taquifilaxia?
Taquifilaxia? Que bicho é esse?
Calma, vou explicar. Taquifilaxia descreve uma situação importante de você conhecer.
Taquifilaxia é o termo médico que se refere à diminuição progressiva da resposta terapêutica a uma determinada droga qualquer, resultando em aumentos sucessivos da dosagem dessa droga.
Ah, então quando falamos em cefaleia rebote ou taquifilaxia, estamos falando basicamente da mesma coisa?
Sim.
Espere um pouco… então quando eu faço tratamentos preventivos – não com analgésicos, mas com uso diário de antidepressivos, anticonvulsivos e outros remédios com a finalidade de diminuir a frequência das minhas dores de cabeça (e consequente ingestão de analgésicos), e esses remédios também vão perdendo o efeito com o passar do tempo e com o aumento sucessivo das dosagens… chegado ao ponto em que voltam a ser necessários analgésicos de uso diário, e assim que passa o efeito dos mesmos a dor de cabeça volta… poderíamos dizer que isso também é uma forma de taquifilaxia / cefaleia rebote?
Sim.
Os médicos conhecem bem o fenômeno da taquifilaxia quando ele ocorre de forma rápida, mas curiosamente, quase sempre deixam de reconhecer esse fenômeno quando a progressão da perda de efeito e consequentes aumentos sucessivos de dosagens não é rápida o bastante, como justamente costuma ser o caso dos remédios preventivos para enxaqueca.
Então não apenas os analgésicos, mas todos e quaisquer remédios para enxaqueca, sejam eles para tomar na hora da crise, sejam para tomar todos os dias no sentido de prevenir (minimizar a frequência das) dores de cabeça, podem ir perdendo o efeito progressivamente e resultar em aumentos sucessivos das dosagens, até que eu fique com dor de cabeça diária, tomando remédios preventivos em altas doses, e me vendo forçada a tomar analgésicos diariamente ou quase, adicionalmente a esses remédios preventivos?
Sim, exatamente. Aliás, esta é uma situação comum infelizmente, visto que recebo todos os dias pacientes que se encontram nestas condições: estão em tratamento preventivo mas mesmo assim têm cefaleia rebote.
Mas então está tudo perdido? Todos os tratamentos caem por terra? São inúteis? Só podem me prejudicar mais que me beneficiar?
Não, absolutamente. O que acontece é que todo e qualquer tratamento, para ser adequado, não deve ser isolado, querendo dizer que enxaqueca não deveria ser encarada meramente como um “estado de falta de remédio para enxaqueca no organismo”, mas sim, precisa se inserir dentro de um contexto no qual se insere a biografia, os hábitos e o estilo de vida do doente.
Qual a Principal Causa da Cefaleia Rebote?
A principal causa da cefaleia rebote é o fato de não se tratar – e até mesmo desprezar e não querer nem ouvir falar – da causa da dor de cabeça, a qual, com o passar do tempo, acabou dando origem à cefaleia rebote.
Um exemplo que eu gosto de usar para ilustrar esse contexto é o seguinte:
Vamos deixar de lado a dor de cabeça por um momento e imaginar que você e eu vamos atender, juntos, agora, um paciente com queixa de dor no pé. Façamos de conta que você e eu também possuímos a informação prévia de que existe uma pedra no sapato deste paciente. Mas por um motivo ou outro não temos meios de tirar a pedra do sapato – somente o próprio paciente teria condições de tentar encontrar e retirar essa pedra que está em seu sapato. Então nós simplesmente ignoramos a pedra e tratamos a dor prescrevendo toda sorte de drogas, injeções e até remédios naturais, homeopatia e acupuntura no sentido, unicamente, de aliviar a dor, que é o sintoma e sofrimento principal deste paciente. Mas não a causa.
Está certo tratarmos apenas a dor, quando não temos condições de tratar a causa da dor? Claro que sim.
Está certo não informarmos o paciente que essa dor é causada por uma pedra no sapato e que embora a medicina não tenha meios de retirar essa pedra, o próprio paciente é o único pode procurá-la e influenciá-la de modo a diminuir a ação negativa dessa pedra, e assim quem sabe se livrar dos remédios e tratamentos médicos “externos” – ou se isso não for possível, ao menos não deixar que o problema aumente a ponto dos tratamentos pararem de fazer efeito? Claro que não.
Voltando ao assunto enxaqueca e aplicando a analogia acima – meu livro tem exatamente este propósito: explicar como você pode influenciar, de dentro para fora, a causa do problema, enquanto a medicina continua fazendo o que ela pode e precisa fazer, na falta da possibilidade de tratar a causa: aliviar a dor e demais sintomas.
Como Evitar e Prevenir a Cefaleia Rebote
A única maneira de evitar e prevenir a cefaleia rebote é, portanto, através da informação, aliada ao esforço pessoal no sentido de modificar hábitos e estilo de vida, de modo a tentar influenciar, de dentro para fora, o desequilíbrio neuroquímico que causa a enxaqueca.
Você pode optar por fingir que não precisa fazer nada e deixar a causa – a “pedra” – intocada, e continuar a levar sua vida sob o efeito de analgésicos e “tratamentos preventivos” de toda sorte, mas neste caso não se surpreenda se os tratamentos começarem a perder o efeito e sua dor de cabeça voltar “de rebote”.
LEIA MAIS:
CONSULTAS COM DR. ALEXANDRE FELDMAN
O LIVRO QUE NÃO PODE FALTAR NA CABECEIRA DE QUEM TEM ENXAQUECA
Informações
Agendamento
Dr. Alexandre Feldman, CRM(SP) 59046
Atendimento Online e Presencial